A China suspendeu nesta terça-feira (4) as licenças de importação de soja de três empresas norte-americanas e interrompeu as importações de madeira serrada dos EUA, intensificando a retaliação depois que o presidente Donald Trump impôs tarifas adicionais sobre produtos chineses.
No início do dia, a China também impôs taxas de importação no valor de US$ 21 bilhões (R$ 124,2 bilhões) em produtos agrícolas e alimentícios dos EUA, incluindo soja, trigo, carne e algodão.
As três empresas norte-americanas afetadas pela suspensão das licenças são a cooperativa de agricultores CHS Inc, a exportadora global de grãos Louis Dreyfus Company Grains Merchandising LLC e a operadora de terminais de exportação de grãos EGT, informou o departamento de alfândega da China em comunicado.
A alfândega disse que detectou cravagem e agente de revestimento de sementes na soja importada dos EUA, enquanto a suspensão das importações de madeira serrada dos EUA ocorreu devido à detecção de pequenos vermes, aspergillus e outras pragas.
Os representantes da Louis Dreyfus, CHS e Bunge Global, que detém participação na EGT, não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
As medidas retaliatórias de Pequim foram em resposta à decisão de Trump de impor tarifa extra de 10% sobre a China, com vigência a partir de terça-feira, resultando em uma tarifa total de 20% em resposta ao que a Casa Branca considera a inação chinesa em relação aos fluxos de drogas.
Cerca de metade das exportações de soja dos EUA é enviada para a China, totalizando quase US$ 12,8 bilhões (R$ 75,71 bilhões) em comércio em 2024, de acordo com o US Census Bureau.
A suspensão da madeira serrada dos EUA foi uma resposta direta à decisão de Trump, em 1º de março, de ordenar uma investigação comercial sobre a madeira serrada importada. Trump havia dito anteriormente a repórteres que estava pensando em impor uma tarifa de 25% sobre a madeira serrada e produtos florestais.
A China é um dos maiores importadores de produtos de madeira do mundo e o terceiro maior destino da madeira serrada dos EUA. O país importou cerca de US$ 850 milhões (R$ 5,03 bilhões) em produtos madeireiros dos EUA em 2024, de acordo com dados da alfândega chinesa.
PUNIÇÃO AOS AGRICULTORES
As taxas adicionais impostas pela China na terça-feira incluíram uma tarifa de 15% sobre frango, trigo, milho e algodão dos EUA e uma taxa extra de 10% sobre as importações de soja, sorgo, carne suína, carne bovina, produtos aquáticos, frutas e legumes e laticínios dos EUA, em vigor a partir de 10 de março.
A suspensão dos três exportadores de soja, além das tarifas de importação mais altas, restringirá ainda mais as importações da semente oleaginosa para a China.
O governo também impôs restrições às exportações e aos investimentos de 25 empresas norte-americanas, com base na segurança nacional. Mas, diferentemente de quando retaliou as tarifas do governo Trump em 4 de fevereiro, desta vez evitou punir grandes nomes conhecidos.
“Tentar exercer uma pressão extrema sobre a China é um erro de cálculo e um erro”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, acrescentando que a China nunca sucumbiu ao bullying ou à coerção.
A China acusou a Casa Branca de “chantagem” em relação ao aumento de suas tarifas, afirmando que possui algumas das políticas antidrogas mais rígidas do mundo.
Analistas afirmam que Pequim ainda espera negociar uma trégua nas tarifas, definindo deliberadamente aumentos abaixo de 20% para deixar espaço para negociadores chegarem a um acordo, mas cada escalada reduz a chance de uma reaproximação.
“O governo da China está sinalizando que não quer aumentar a escalada”, disse Even Pay, analista de agricultura da Trivium China.
“É justo dizer que estamos nos primeiros dias da Guerra Comercial 2.0”, disse Pay, acrescentando que ainda há tempo para evitar uma guerra comercial prolongada se Trump e o presidente chinês Xi Jinping conseguirem chegar a um acordo.
Os mercados futuros da China ficaram estáveis com as notícias. Os futuros do farelo de soja e do farelo de colza mais negociados no maior importador agrícola do mundo subiram 2,5% na segunda-feira, depois que o Global Times disse que Pequim visava as exportações agrícolas dos EUA.
A guerra comercial entre a China e os EUA pode beneficiar outros países.
Desde que os Estados Unidos e a China impuseram tarifas durante o primeiro mandato de Trump, Pequim passou a reduzir sua dependência de produtos agrícolas norte-americanos, estimulando a produção doméstica e comprando mais de países como o Brasil.
Os exportadores agrícolas dos EUA também poderiam intensificar seus esforços para substituir o mercado chinês, enviando mais produtos para o Sudeste Asiático, a África e a Índia.
“As tarifas chinesas sobre as importações de trigo e milho dos EUA devem apoiar a demanda pelas exportações australianas de trigo e milho”, disse Dennis Voznesenki, analista do Commonwealth Bank em Sydney.