O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira (7) estar disposto a aplicar tarifas recíprocas sobre produtos lácteos e madeireiros do Canadá “hoje” mesmo, caso Ottawa não reduza as suas.
“O Canadá nos tem enganado durante anos com tarifas de 250% sobre produtos lácteos e madeira para construção. Isso não vai acontecer novamente”, disse Trump a jornalistas na Casa Branca. “Será aplicada exatamente a mesma tarifa a eles, a menos que a reduzam, e isso é o que significa reciprocidade. E podemos fazer isso hoje mesmo, ou esperar até segunda ou terça-feira”, acrescentou.
Trump também mencionou as altas tarifas da Índia, mas disse que o país concordou em reduzir suas taxas de importação.
Sob o USMCA (acordo de livre-comércio entre EUA, México e Canadá) de 2020 sobre comércio —que ele negociou e assinou—, quase não há tarifas sobre produtos que cruzam as fronteiras da América do Norte. Entre as poucas exceções estão as altas tarifas do Canadá sobre produtos lácteos para proteger os agricultores domésticos.
O acesso dos produtos lácteos dos EUA ao mercado canadense já foi objeto de litígio no âmbito do acordo.
Washington acusa Ottawa de não respeitar suas obrigações. Mas no final de 2023, um painel de solução de controvérsias (procedimento previsto no acordo) decidiu a favor do Canadá, que limitava a quantidade de produtos lácteos que entram no país sem pagar tarifas aduaneiras.
Já a madeira de construção é objeto de um longo litígio entre os dois países há mais de 35 anos, no qual os produtores americanos acusam seus homólogos canadenses de exportar esse material a um preço inferior aos custos de produção.
O Canadá é um dos maiores exportadores mundiais de madeira para construção e, segundo o governo canadense, os EUA são seu maior mercado.
Na quinta-feira (6), Trump suspendeu as tarifas de 25% impostas sobre a maioria dos produtos do Canadá e do México. Em entrevista à Fox Business Network nesta sexta, ele disse que implementou a pausa para ajudar as montadoras, mas acrescentou que a suspensão era uma medida de curto prazo e que as tarifas poderiam aumentar com o tempo.
Segundo ele, tarifas recíprocas seriam implementadas para igualar quaisquer taxas entre os três países no dia 2 de abril. “Em 2 de abril, tudo se torna recíproco. O que eles nos cobram, nós cobramos deles. É um grande negócio.”
O principal assessor econômico da Casa Branca, Kevin Hassett, disse que as tarifas de 25% parcialmente suspensas sobre produtos canadenses e mexicanos ainda estão em vigor para pressionar os países a interromperem os fluxos de fentanil para os EUA.
Ele disse à CNN que se Trump achar que o progresso sobre o fentanil “não foi tão impressionante”, as tarifas de 25% permanecerão em vigor após 2 de abril, além de outros possíveis aumentos dos planos de tarifas recíprocas. A suspensão para automóveis e outros produtos em conformidade com o USMCA também terminará nesse momento.
CANADÁ GASTA BILHÕES PARA COMBATER EFEITOS DE TARIFAS
Nesta sexta, o Canadá revelou bilhões de dólares para apoiar empresas e pessoas que podem ser diretamente afetadas pelas tarifas dos EUA.
Essas medidas de alívio envolvem mais de 6,5 bilhões de dólares canadenses para ajudar as empresas a acessar novos mercados internacionais, absorver o impacto das perdas, acessar empréstimos facilitados e evitar demissões, disse uma equipe de ministros.
O Canadá depende dos EUA para 75% de suas exportações e um terço de todas as importações. As exportações para os EUA representam cerca de 18% do PIB do Canadá e mais de 2,4 milhões de empregos no Canadá dependem dos negócios com os EUA.
Sua dependência do comércio para o crescimento econômico deixa o país vulnerável em caso de uma guerra comercial prolongada.
“Estamos avançando com essas mudanças apesar da pausa de ontem porque empresas e trabalhadores precisam de garantias agora”, disse o Ministro do Trabalho, Steven MacKinnon, em uma coletiva de imprensa nesta sexta.
Exportadores prejudicados pelas tarifas podem acessar financiamento de um fundo de 5 bilhões de dólares canadenses este ano e no próximo para diversificar para novos mercados globais e absorver perdas por inadimplência, flutuações cambiais, impactos nos fluxos de caixa, bem como superar barreiras à expansão, disse o governo em um comunicado.
Outro 1 bilhão de dólares canadenses está sendo oferecido para reduzir barreiras financeiras para a indústria agrícola e alimentícia, com 500 milhões de dólares canadenses reservados para empréstimos a juros baixos.
Formuladores de políticas, políticos e economistas disseram que as tarifas podem prejudicar setores como aço e alumínio, automotivo, aeroespacial, agrícola e de laticínios, com consequências potencialmente devastadoras para a economia canadense.
A Ministra do Comércio, Mary Ng, disse que o ministério estava fazendo esforços para diversificar o mercado de exportação do Canadá e que até o final deste ano, país superaria meta anterior de diversificar exportações não destinadas aos EUA em 50%.
O ministro da indústria do Canadá, Francois-Philippe Champagne, disse à CNBC que Ottawa estava tendo dificuldade em entender o que precisava ser feito para evitar as tarifas dos EUA. “Parece que as metas continuam mudando, e é isso que torna difícil”, disse Champagne. “Então, eu acho que precisamos voltar a um lugar de normalidade em nosso relacionamento com os EUA.”
Ele disse que o Canadá estava disposto a se engajar com Trump na renegociação do USMCA, conforme previsto para 2026, mas que havia um processo para isso que precisava ser seguido.
“O que precisamos é de estabilidade e previsibilidade em ambos os lados da fronteira”, disse Champagne.
Com Reuters e AFP