Após sustentar o PIB (Produto Interno Bruto) do país em 2023, quando registrou alta de 16,3%, o PIB da agropecuária recuou 3,2% em 2024. Era uma taxa prevista, diante do comportamento ruim da agricultura, apesar do bom desempenho da pecuária e da atividade florestal.
O ano passado foi marcado por condições climáticas adversas e frustração de todas as expectativas de produção na agricultura. Em outubro de 2023, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) estimava uma safra de grãos de 309 milhões de toneladas para 2024. Os dados finais mostraram que a produção ficou em apenas 293 milhões.
A crise climática afetou todos os principais itens da produção brasileira, em especial soja e milho, que representam 90% do volume total de grãos produzidos no país. Houve uma queda forte da produtividade, devido a falta de chuva e a temperaturas elevadas.
Outras culturas importantes como laranja, cana-de-açúcar, café e fumo também ajudaram a puxar a taxa do PIB da agropecuária para baixo no período. Foram poucos os produtos que conseguiram obter evolução no volume produzido. Entre eles, arroz e algodão.
A produção de grãos atingiu 315,4 milhões em 2023, recuou para 293 milhões no ano seguinte e deverá somar 325 milhões neste ano, segundo o IBGE.
Em 2025, portanto, o PIB da agropecuária deverá ser novamente um propulsor do PIB geral do país, se for confirmado o volume de grãos esperado. Boa parte da safra recorde de soja já está nos armazéns, mas a safrinha de milho ainda é uma promessa. A expectativa para a pecuária é de um ritmo menor neste ano.
Mesmo com toda essa condição climática adversa, o PIB do Cepea (Centro de Estudos Avançados de Economia Aplicada) e da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) deverá apresentar taxa melhor do que a do IBGE em 2024.
O dado apurado pelo Cepea, ligado à Esalq e à USP, reflete não apenas o volume de produção agregado dentro da porteira, como o do IBGE, mas também o comportamento real dos preços. A produção de grãos caiu, mas os preços de alguns produtos dispararam, o que vai ajudar a aliviar a queda no conceito do Cepea.
Os dados do terceiro trimestre indicavam retração de 2,49%, mas, dependendo do desempenho do quarto trimestre, que ainda está sendo apurado pelo órgão ligado à Esalq, a taxa deverá apresentar uma queda bem menor ou até ser ligeiramente positiva.
Além disso, os dados do Cepea não se limitam à agropecuária, mas também à produção de insumos relacionados ao setor, às agroindústrias de processamento e ao agrosserviço. Este último contempla transporte, armazenagem, parte financeira e outras atividades necessárias para que o produto chegue ao consumidor final.
Com a queda do PIB da agropecuária em 2024, a participação do setor no índice total do país caiu para 6,5%, a menor taxa em cinco anos. Em 2021, essa participação chegou a 7,7%.
As maiores perdas de produção no ano passado ocorreram nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. A primeira produziu 78 milhões de toneladas, 12,6% a menos do que em 2023. No Centro-Oeste, a queda foi de 10%, com a produção sendo reduzida para 145 milhões.
Na lista dos principais produtos que puxaram o PIB da agropecuária para baixo estão soja e milho. Os produtores dessas duas commodities haviam colocado 283 milhões de toneladas nos armazéns em 2023. No ano passado, foram apenas 260 milhões.
Laranja, café e cana-de-açúcar, que tiveram forte aceleração nos preços no ano passado, e elevam a taxa de PIB no conceito de PIB-renda do Cepea, puxaram para abaixo a taxa no conceito do IBGE. A produção de laranja caiu 21%; a de milho, 12,5%; a de soja, 5%; a de fumo, 10%; a de cana-de-açúcar, 1,2%, e a de trigo, 3%.
Ao contrário do comportamento das lavouras, a pecuária impediu uma queda ainda maior do PIB da agropecuária. Conforme dados do IBGE, que ainda podem passar por ajustes, a produção nacional de carnes atingiu o recorde de 29 milhões de toneladas equivalente carcaça em 2024.
A carne bovina acumulou 10,2 milhões de toneladas, 14,1% a mais do que em 2023. A produção de carne de frango foi a 13,6 milhões e a suína somou 5.34 milhões, segundo o IBGE.