O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira (13) que aplicará uma tarifa de 200% sobre todos os vinhos e outros produtos alcoólicos provenientes da União Europeia se o bloco não retirar sua tarifa sobre o uísque.
Postando em sua plataforma Truth Social nesta quinta-feira (13), o presidente dos EUA disse que a medida era uma resposta à decisão da UE de impor uma tarifa “desagradável” de 50% sobre o uísque.
“Se esta tarifa não for removida imediatamente, os EUA em breve aplicarão uma tarifa de 200% sobre todos os vinhos, champanhes e produtos alcoólicos vindos da França e outros países representados pela UE. Isso será ótimo para os negócios de vinho e champanhe nos EUA”, escreveu Trump.
A UE disse na quarta-feira que aplicaria tarifas de até 50% sobre o uísque a partir de 1º de abril em retaliação à decisão de Washington de impor sobretaxas sobre importações de aço e alumínio.
Tarifas sobre exportações de álcool da UE para os EUA seriam um grande golpe para uma indústria europeia de destaque e afetariam algumas das maiores empresas da região, incluindo a francesa LVMH, fabricante do champanhe Dom Pérignon e Moët & Chandon.
As ações das empresas de bebidas caíram após a postagem de Trump, com a LVMH caindo até 2,2%, a Pernod Ricard até 4,3% e a cervejaria Heineken deslizando 1,2%.
O ministro do Comércio da França, Laurent Saint-Martin, acusou Trump de “intensificar a guerra comercial que ele escolheu desencadear”, acrescentando que “não cederemos a ameaças e sempre protegeremos nossos setores”.
Desde sua posse em janeiro, Trump impôs uma série de tarifas crescentes aos maiores parceiros comerciais dos EUA. A implementação caótica dessas taxas, marcada por várias reviravoltas repentinas, abalou empresas e mercados financeiros.
O Canadá entrou nesta quinta com uma queixa na OMC (Organização Mundial do Comércio) sobre as tarifas que os EUA impuseram a certos produtos de aço e alumínio que entraram em vigor na quarta-feira (12). Ottawa anunciou em seguida taxas retaliatórias sobre quase US$ 21 bilhões de produtos dos EUA.
A mais recente troca de ameaças entre Trump e a UE ecoa uma disputa durante seu primeiro mandato, quando Bruxelas impôs tarifas de 25% sobre o uísque americano em retaliação às taxas dos EUA sobre metais.
De acordo com o Conselho de Bebidas Destiladas dos Estados Unidos, as exportações de uísque americano para a UE caíram 20% para US$ 440 milhões entre 2018 e 2021, quando as tarifas foram suspensas. O valor das exportações de uísque para o bloco recuperou para US$ 699 milhões no ano passado.
Executivos do setor na Europa e nos EUA reagiram com consternação à perspectiva de serem pegos no fogo cruzado de outra disputa comercial.
“Mais uma vez, as bebidas alcoólicas se tornaram dano colateral em uma disputa comercial não relacionada”, disse Pauline Bastidon, diretora de comércio e assuntos econômicos do grupo de comércio spiritsEurope, acrescentando que o setor já estava lutando contra a desaceleração das vendas nos EUA e na China.
A Brown-Forman, com sede em Louisville, Kentucky, e proprietária de Jack Daniel’s e Old Forester, e o grupo japonês Beam Suntory, fabricante do Jim Beam e do bourbon Maker’s Mark Kentucky, estariam entre os mais afetados caso a UE avance com suas tarifas.
A Brown-Forman poderia ver um impacto de 10% na receita operacional do grupo devido à taxa, de acordo com estimativas de analistas da Bernstein.
“Instamos o presidente Trump a garantir um acordo de bebidas espirituosas com a UE para nos levar de volta a tarifas zero-para-zero”, disse Chris Swonger, presidente do Distilled Spirits Council.
Na Itália, que exportou quase 2 bilhões de euros de vinho para os EUA no ano passado, grupos do setor instaram a UE a rapidamente chegar a um acordo com o governo Trump.
“Alguém deve começar a mostrar um pouco de bom senso e a Europa deve ser a primeira a fazê-lo”, disse Luigi Pio Scordamaglia, diretor de relações internacionais da Coldiretti.
Além das tarifas sobre o uísque, Bruxelas disse que aplicaria taxas de até 50% sobre 28 bilhões de euros de produtos dos EUA, incluindo jeans e motocicletas Harley-Davidson.
Funcionários da UE disseram que deliberadamente miraram produtos fabricados em estados republicanos em uma tentativa de aumentar a oposição entre legisladores às tarifas de Trump.
A Comissão Europeia se recusou a comentar.