Carol Condé, 44, começou a agenciar talentos em 2004, na esteira do sucesso de Cidade de Deus. Naquele momento, ela ia até os atores, na comunidade do Rio de Janeiro, e organizava as entrevistas deles para emissoras estrangeiras, que ocorriam de um orelhão. Até visto em passaporte ela viabilizou para que o ator Leandro Firmino, que interpretou Zé Pequeno, fosse à premiação.
Firmino virou sócio, depois saiu, e, hoje, a agência Condé+, representa de atores a influenciadores. Entre eles estão o diretor de fotografia Adrian Teijido e os atores Barbara Luz, Carla Ribas e Luana Nastas, todos de Ainda Estou Aqui. Para Condé, a vitória do filme seria a consagração, mas a agência e seus artistas já fazem dinheiro pelo mundo.
A Fernanda Torres vai ganhar (risos)?
Ela já foi muito longe e acho que vai ganhar. É uma excelente oportunidade para a academia mostrar que está olhando para fora e premiar alguém que realmente pode fazer uma carreira internacional. A premiação dela significa uma atualização da academia.
No que o Oscar ajuda seu negócio?
É o prêmio ícone do cinema e traz conscientização para a importância do nosso trabalho. Olhe a campanha da Fernanda Torres [ela não é artista da agência]. O que ela faz, aonde vai, o que fala, tudo traz valor para o filme e pode levar a ganharem.
É parte do seu trabalho definir até o que o artista fala, aonde vai, o que veste?
A Fernanda mostra que tem esse entendimento da carreira dela, da importância de estar na Dior, nas principais revistas e eventos. O agente define isso tudo com o artista para fazer a conexão deles com a parte financeira.
Como você cobra por isso?
O volume de dinheiro que passa por uma produção é enorme e 80% envolvem uma agência. No entanto, a figura do agente não é regulamentada no país e o agenciamento não é um trabalho pago. Há um contrato de parceria. A agência se associa aos artistas como interveniente e tem uma participação dessas carreiras, algo que se efetiva quando se fecha um negócio. Ambos têm deveres e obrigações. Nos EUA, o agente é uma exigência de qualquer estúdio como garantia de que aquela carreira é administrada e que nada dará errado.
Há críticas por ganhar em cima do talento dos outros?
Sim, porque não entendem que o agenciamento é um negócio. Hoje, as agências direcionam trabalhos que têm a ver com cada artista, potencializando até as possibilidades financeiras. Eu também estou investindo meu tempo em desbravar o mercado para cada profissional. Então, isso aqui não é assistencialismo. A gente tem um departamento jurídico forte, temos toda a estrutura para que se desenvolvam. É uma construção conjunta.
Qual a porcentagem que a agência retém?
Para elenco é 20%, os criativos (diretores) são 15%, diretores de arte e fotografia, 10%. É a média do mercado. Claro que cada caso é um caso, mas isso permite que não haja concorrência desleal.
Quanto fatura?
A gente não abre números. Mas garanto que crescemos 750% em faturamento entre 2020 e 2024. De seis colaboradores, passamos para 20. E de 60 agenciados, pulamos para 160.
Ajudou o fim da exclusividade da Globo?
Antes era muito parecido com o dos estúdios de Hollywood: contratos longos, fixos e exclusivos. Isso não é muito interessante, porque as carreiras ficam à mercê do que querem de você. Esse modelo começou a ruir com a Lei das Cotas na TV paga, depois com a entrada da Record nas novelas, e, finalmente, com a chegada da Netflix no Brasil. Várias séries foram feitas aqui, ganharam o mundo e nossos artistas começaram a ter um ambiente mais diverso, com mais condições de desempenharem papéis e conduzirem projetos alinhados com o que queriam para suas carreiras. Além de artistas, a abertura da Globo também foi fundamental para o agenciamento de diretores e roteiristas.
E quem olha para o Brasil?
Não há uma semana em que a gente não tenha artistas fazendo testes para o mercado internacional, EUA e México, principalmente. O Teijido [Adrian] acabou de fazer uma série no México. O Azul Serra, diretor de fotografia, também já tem carreira internacional.
A diversidade brasileira é um ativo nesse mercado?
Aqui tem etnias de todos os lugares seja para filmar ou para lançar um filme. É um mercado com know-how e a moeda deles [dos produtores estrangeiros] vale muito aqui.
RAIO-X
Carol Condé, 44
Estudou comunicações e artes cênicas. Atuou em algumas peças, mas a vida profissional teve início na produtora de cinema TV Zero. Por ali fez sua rede de contatos até que, em 2015, já estabelecida como agente, fundou a Condé+, responsável pela carreira de nomes como Bella Campos, Alice Carvalho, Otávio Augusto e Enrique Diaz.
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