As passagens pelo Flamengo fez do executivo carioca Claudio Pracownik um atacante. Competitivo, o advogado foi escolhido para comandar a nova Bolsa de Valores brasileira: a Base Exchange, com sede no Rio. O plano, que patina há mais de uma década diante das barreiras impostas aos concorrentes pela B3, saiu do papel com a abertura do mercado imposta pelo Cade, após um acordo.
Com o gigantesco fundo árabe Mubadala por trás, Pracownik prevê iniciar a operação no primeiro semestre de 2026 e acredita que, a exemplo do que ocorreu nos EUA com o surgimento da Nasdaq, a competição tem potencial para alavancar o mercado.
Tem espaço no Brasil para mais uma Bolsa?
Como vice-presidente do Flamengo, sempre me perguntaram o que falta para o time ser o Real Madrid, ou para o Vasco ser o Barcelona. A qualidade da competição é que traz qualidade ao mercado. O que falta para a B3 ser a NYSE [Bolsa de Nova York] é nós [a Base Exchange] sermos a Nasdaq.
Há essa receptividade por parte da B3?
Ela tem sido gentil. Não se trata apenas de competir, trata-se de cooperar e competir. O mercado de capitais tem que ser o maior possível. E, dentro da concorrência, vence o melhor. A B3 é uma grande empresa, muito bem gerida. É um orgulho nacional. E isso traz para a nova Bolsa mais responsabilidade.
Quais ativos serão negociados?
Queremos competir em todos os produtos que a B3 possui. Nessa primeira fase, vamos negociar no mercado à vista de ações, o que inclui os mesmos ativos da B3. Será possível comprar ação em uma bolsa e vender na outra. Também teremos aluguel de ações e ETFs [fundos de índices]. Na segunda fase entraremos em derivativos.
Quando a Bolsa estreia?
Temos a esperança de receber licença ainda este ano e de começar a operar no primeiro semestre do próximo ano
O prefeito Eduardo Paes faz questão de enfatizar que é a Bolsa do Rio.
Temos uma divergência semântica apenas. Ele chama de “Bolsa do Rio” e eu chamo de “Bolsa no Rio” (risos). Mas de maneira alguma vou fomentar essa rivalidade [com a Bolsa de SP]. Queremos trazer ao país o que é o cerne de uma economia liberal: possibilidade de escolha. A competição certamente vai trazer inovação, redução de preço e melhoria de processos. Apesar de estar no Rio, assim como a B3, é uma Bolsa do Brasil. Tanto os ativos que vamos negociar quanto os investidores são globais.
O mercado brasileiro enfrenta um período marcado por incertezas, com juros elevados e preço baixo das ações. É mesmo um bom momento para competir com a B3?
Estamos acostumados a viver com incertezas e sujeitos à volatilidade. Mas isso não significa volume pequeno [de negociação de ativos]. Crise econômica, com desvalorização da moeda, não significa necessariamente menos investimento no país, pode significar mais.
Há interesse de investidores estrangeiros em empresas brasileiras?
Os investidores estão otimistas, com vontade de investir no Brasil, por entenderem que as ações estão descontadas [preço abaixo do que seria justo]. Lógico que a política tarifária do [Donald] Trump [presidente dos EUA] prejudica certos setores, mas beneficia outros. Uma possível recessão americana traz necessidade de investir em mercados emergentes, com retorno maior. Eu vejo o Brasil bem posicionado para isso.
Teremos eleições no ano que vem. Isso muda alguma coisa?
Não compete a mim falar da visão política do mercado. O real se desvalorizou mais do que boa parte das moedas do mercado emergente, e isso anima para uma entrada de capital no Brasil. Nos próximos anos, a previsão é de que o real se valorize, inclusive no ano da eleição. Porque os juros devem começar a reduzir a partir do ano que vem, mesmo com as críticas às medidas ainda insuficientes de redução do déficit fiscal. O que já foi feito aponta para redução de juros.
RAIO-X
Claudio Pracownik, 56
Advogado formado pela UERJ, foi sócio-fundador da Win the Game, joint venture com o BTG Pactual focada no mercado de esportes, e CEO da Genial Investimentos. Também já ocupou cargos executivos em Ágora, Santander, Pactual e Banco Bozano, Simonsen. Atualmente é CEO da Base e da Flowa, responsável pela operação tecnológica da nova Bolsa, e é vice-presidente de Finanças do Flamengo.
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