A indústria que fabrica materiais para baterias de carros elétricos —vital para a transição energética— está pronta para consolidação, à medida que a competição chinesa ameaça rivais ocidentais, alertou um dos principais produtores da Europa.
Bart Sap, chefe da multinacional belga Umicore, que fabrica materiais usados em cátodos, afirma que está em busca de acordos e parcerias que reforcem o negócio de baterias em dificuldades do grupo.
“Estamos analisando todos os ângulos para recuperar valor neste negócio porque destruímos valor nos últimos anos”, diz Sap ao Financial Times.
“A indústria está pronta para consolidação… estamos explorando ativamente parcerias” no espaço de materiais para baterias, acrescentou. “Vimos que há interesse [em acordos] na indústria em geral”.
As ações da Umicore despencaram mais de 50% no último ano, e no mês passado a empresa reduziu em 50% o investimento de capital em materiais de cátodo de bateria como parte de uma redefinição de estratégia.
A empresa também foi forçada a adiar planos para fábricas de reciclagem de baterias na Europa e de materiais para baterias no Canadá. A isto seguiu uma depreciação de €1,6 bilhão (R$ 10,5 bilhões) em seu negócio de materiais para baterias no ano passado.
A empresa foi duramente atingida por uma desaceleração no mercado de carros elétricos e pelo rápido crescimento dos materiais de cátodo chineses, uma parte essencial e cara de uma bateria de veículos elétricos.
Além da Umicore, a dominância da China colocou pressão sobre grupos ocidentais como a alemã BASF, que têm que lidar com materiais chineses de baixo custo, disseram analistas.
Um excedente de capacidade de fabricação, principalmente da China, desencadeou uma queda nas taxas de capacidade nas plantas. Alguns na indústria estavam operando a 30 ou 40% da capacidade total, disse Sap. Eles normalmente precisavam de taxas de cerca de 75 ou 80% para obter bons retornos, acrescentou.
Mesmo na China, alguns produtores menores estavam “saindo ou operando suas instalações a 10% de utilização… A consolidação no mercado acontecerá”, disse Evan Hartley, da fornecedora de dados Benchmark Mineral Intelligence.
A China controla mais de 80% do mercado de materiais ativos de cátodo —um dos dois eletrodos de uma bateria— tendo rapidamente expandido a capacidade de fabricação, de acordo com a S&P Global Mobility.
“Houve uma quantidade obscena de capacidade que entrou em operação na China nos últimos anos… É enorme”, disse Hartley.
Jason Ying, estrategista de commodities do BNP Paribas, disse que, apesar da desaceleração dos veículos elétricos, a capacidade global de material de cátodo continuaria a aumentar nesta década “liderada por projetos chineses”.
O mercado de materiais de cátodo é um exemplo da dependência do ocidente da China para cadeias de suprimentos essenciais a uma variedade de setores centrais.
Grupos industriais precisavam que os formuladores de políticas europeias estabelecessem políticas claras a longo prazo para ajudar o setor a “evitar a dependência excessiva de outras regiões”, disse Sap.