As companhias aéreas da Europa pediram à União Europeia que reduza suas regras ambientais, em uma mudança significativa de tom para uma indústria que luta para se descarbonizar.
Os executivos-chefes de quatro das maiores transportadoras da região, incluindo Ryanair e IAG (International Airlines Group), que controla a British Airways, disseram que as regras de precificação de carbono da UE para a aviação deveriam ser flexibilizadas e alinhadas a um padrão global mais barato.
“Precisamos cortar e revisar as regulamentações da UE rapidamente”, disse Carsten Spohr, executivo-chefe da Lufthansa.
Os executivos, que também incluíram o chefe da Air France-KLM e falaram em nome de 17 companhias aéreas, pediram ao bloco que revise uma regra que exige que fornecedores de combustível em aeroportos forneçam uma porção de SAF (combustível de aviação sustentável, em portguês) para voos de partida.
Bruxelas tem enfrentado pressão de grupos empresariais para reduzir sua agenda de sustentabilidade e ajudar as empresas europeias a se tornarem mais competitivas, especialmente enquanto o presidente Donald Trump lança uma onda de desregulamentação nos EUA.
O czar da competitividade econômica do bloco sugeriu no último mês que a UE está disposta a suavizar algumas de suas políticas verdes para apaziguar a indústria do bloco.
Falando em uma reunião da associação comercial A4E (Airlines for Europe) em Bruxelas, os executivos-chefes insistiram que permanecem comprometidos com a meta de longo prazo de contribuir com zero emissões líquidas de carbono para a atmosfera até 2050.
No entanto, eles disseram que a UE deveria adiar regras que exigem que empresas de combustível forneçam às companhias aéreas uma quantidade crescente de “combustível de aviação sustentável” a cada ano. A exigência é que as companhias aéreas usem 2% neste ano, aumentando para 6% até 2030.
Esses combustíveis —geralmente feitos de material orgânico, como óleo de cozinha usado ou culturas agrícolas— podem reduzir as emissões líquidas de carbono dos voos em cerca de 70%. Mas são muito mais caros que os combustíveis fósseis e estão em oferta limitada.
“A menos que ações sejam tomadas agora, a única solução realista é adiar a data do mandato SAF de 2030”, disse Luis Gallego, executivo-chefe da IAG.
As companhias aéreas culparam as grandes petrolíferas por reduzirem a oferta de combustíveis renováveis.
“Se a oferta não está disponível, você não pode comprá-la, isso é economia básica”, disse Michael O’Leary, chefe da Ryanair.
O Reino Unido tem um mandato que exigirá que 10% dos combustíveis sejam SAF até 2030. O’Leary disse que o governo britânico “não terá escolha” a não ser suavizar essa meta.
Ele acrescentou que alinhar o Esquema de Comércio de Emissões da UE ao sistema Corsia da indústria global de aviação, que cobra um preço muito mais baixo para poluir do que o sistema da UE, “criaria um campo de jogo nivelado para os consumidores aqui na Europa”.
No entanto, um relatório não publicado da UE de 2021, visto pelo Financial Times, concluiu que o Corsia corria o risco de ser ineficaz, mal aplicado e de “minar” as políticas climáticas da UE.
Diane Vitry, diretora de aviação da Transport and Environment, uma ONG ambiental, disse que as companhias aéreas estão “aproveitando uma tendência anti-verde que decepcionará os clientes que tentam cada vez mais voar de forma sustentável”.
Ela acrescentou que o Corsia é “um sistema tão fraco que efetivamente fornece compensações baratas, o que não coloca um preço adequado no CO₂”.
A Comissão Europeia disse que considera as metas atuais de SAF “realistas e viáveis”, apontando que elas foram acordadas conjuntamente entre a comissão e a indústria.
“Reafirmamos nosso compromisso de manter o curso do Pacto Verde Europeu e, portanto, vamos nos ater a essas metas”, disse a comissão. “O foco agora está na implementação delas, e ofereceremos suporte onde necessário.”
Mas Spohr disse que os consumidores da UE merecem um debate mais “honesto” sobre a descarbonização, especialmente porque as empresas de combustível reduziram a produção de alguns combustíveis renováveis e a Airbus adiou suas ambições de introduzir uma aeronave movida a hidrogênio.
“As coisas estão mudando no debate e nas decisões de engenharia… os engenheiros estão parando o trabalho em hidrogênio e passaram da produção de SAF para a produção de combustíveis fósseis, o que terá um impacto no alcance do net zero. Devemos a eles um debate mais honesto sobre isso”, disse ele.