Apesar da pressão que envolve a aquisição do Master pelo BRB (Banco de Brasília), os dirigentes das duas instituições financeiras veem chance mínima de rejeição da operação pelo Banco Central.
Eles entendem que as notícias que apontam que o BC vai vetar o novo arranjo societário visam desestabilizar o negócio assinado na última sexta-feira (28), mas que ainda depende do sinal verde do órgão regulador do sistema financeiro.
Pessoas envolvidas nas negociações com o BC reforçaram que o negócio não teria sido assinado se não houvesse segurança das vantagens da operação para o BRB e para o Master e também para o aumento da concorrência no mercado financeiro, ainda muito concentrado em grandes bancos no país.
Nesta segunda-feira (31), em uma declaração aos funcionários obtida pela Folha, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, prevê um prazo bem otimista, de três a seis meses para análise pelo BC. Costa disse aos funcionários que os inimigos “vão falar mal do BRB” porque o banco do governo do Distrito Federal vai subir da 14ª para a 9ª maior instituição em ativos de crédito.
Segundo ele, o Master “provavelmente” vai se chamar BRB Corporate Bank.
O BC tem até 360 dias de prazo para analisar a operação, mas a avaliação interna é que o caso avance mais rapidamente. Segundo uma pessoa com conhecimento no assunto, o prazo de análise do BC varia em função da robustez das condições apresentadas no processo.
A análise ganha mais celeridade se não houver pendências para concretização de atos societários, nem for necessária a requisição de novas documentações ou informações para o BC ter convicção de entendimento sobre o tema. Nesse cenário mais otimista, o prazo mínimo viável pode variar entre três e oito semanas.
O presidente do BRB tratou da aquisição do banco Master em reunião com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, nesta segunda-feira (31). Também participaram do encontro os diretores de Fiscalização, Ailton Aquino, e de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Gomes.
Mais cedo, Galípolo se encontrou com o chairman e sócio sênior do Banco BTG Pactual, André Esteves, na sede do BC.
Alvo de críticas dos grandes bancos pelas operações com o CDBs com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Crédito), o dono do Master, Daniel Vorcaro, já tem uma reunião agendada com Galípolo nesta terça-feira (1°), em Brasília.
Desde o anúncio do acordo, ele deixou a comunicação oficial para Costa. Mas a interlocutores, Vorcaro tem dito que os dois bancos vão se consolidar no Banco Central como uma única instituição. O novo banco passará a ter R$ 112 bilhões de ativos totais, R$ 72 bilhões de carteira de crédito e mais de R$ 100 bilhões em captações. Vorcaro continuará com o controle societário do Master.
Vorcaro também vai ficar com ativos considerados de maior risco, como os precatórios (títulos de dívidas judiciais), que somam cerca de R$ 7,5 bilhões. Além dos precatórios, os ativos que não entraram no negócio com o BRB incluem direitos creditórios de ações judiciais e ações de empresas. O Master calcula um montante em torno de R$ 16 bilhões desses ativos, enquanto o presidente do BRB informou à Folha que somavam R$ 23 bilhões, e que o valor poderia aumentar.
“As auditorias ainda estão em curso e qualquer ativo ou passivo de maior risco que nós não tivermos interesse em trazer pelo BRB não virá a contar”, disse o presidente do BRB aos funcionários na transmissão desta segunda.
Uma das preocupações dos maiores bancos é com o estoque de cerca de R$ 50 bilhões que o Master tem de CDBs e, que se não honrados, serão cobertos com recursos do FGC —fundo financiado pelos bancos e que garante até R$ 250 mil por CPF.
O BRB quer entrar forte também no novo mercado consignado de privado, recém-lançado pelo governo. Uma das avaliações é de que o Master tem hoje capacidade tecnológica que permite ao BRB desenvolver mais rápido esse mercado do que sozinho.
Na fala aos servidores do BRB, Costa destacou que o banco havia tentado fazer outras duas compras, sem sucesso. O presidente também disse que o trabalho “não foi feito somente pela equipe do BRB”, e que a instituição contratou a PwC e o escritório de advocacia Lefosse para ajudarem na operação.