Enquanto o presidente Donald Trump e seus aliados republicanos correm para renovar um conjunto de cortes de impostos para famílias e empresas, eles enfrentam o desafio fiscal de estender essas políticas em um momento em que a dívida pública dos Estados Unidos fica cada vez maior.
O último alerta chegou nesta quinta-feira (27) do Congressional Budget Office (Escritório de Orçamento do Congresso), um órgão de fiscalização apartidário que constatou que o governo está tomando dinheiro emprestado de forma rápida e cara, enquanto enfrenta os custos crescentes de uma população que se aposenta rapidamente.
Esses fatores levaram o órgão a alertar que o endividamento do país representa “riscos significativos para a perspectiva fiscal e econômica” dos EUA. Até 2035, a dívida deverá sair de 100% e atingir 118% do PIB (produto interno bruto) do país, de acordo com o novo relatório. O escritório também projetou que a economia crescerá mais lentamente, à medida que a força de trabalho diminui devido à idade, à redução da imigração e ao menor crescimento populacional.
Mas a avaliação ainda está incompleta, chegando em um momento imprevisível no início do segundo mandato de Trump. Desde sua reformulação da burocracia federal até suas tarifas sobre carros importados, as políticas econômicas do presidente têm ramificações significativas para o orçamento federal que nem mesmo os responsáveis conseguem ainda calcular.
As vastas incertezas incluem o destino dos cortes de impostos federais que estão prestes a expirar para famílias e empresas, que Trump promulgou enquanto estava na Casa Branca em 2017.
A análise orçamentária divulgada nesta quinta presume que essas políticas expiram, conforme planejado, ajudando a melhorar as receitas fiscais federais e o peso da dívida pública. Mas o presidente busca renovar e expandir os cortes de impostos como parte de um pacote que pode chegar a trilhões de dólares.
Para compensar o custo, legisladores republicanos começaram a identificar cortes de gastos e outras fontes de receita. Mas os líderes republicanos ainda esperam compensar parte do preço confiando em um truque contábil especial, que poderia fazer a legislação parecer gratuita.
“A perspectiva de longo prazo de hoje será meio que a última perspectiva da era pré-Trump”, disse Marc Goldwein, vice-presidente sênior do Comitê para um Orçamento Federal Responsável, que apoia a redução da dívida. Analisando os números do órgão, Goldwein disse que a dívida pública poderia chegar a US$ 138 trilhões em 2055.
“A partir daí, poderemos ver o que o governo faz para melhorar ou piorar a perspectiva de longo prazo.”
As novas projeções são apenas o alarme mais recente sobre o desequilíbrio fiscal do país. Com cerca de US$ 36 trilhões, e crescendo, a dívida reflete uma geração de movimentos de gastos e receitas desajustados, incluindo presidentes de ambos os partidos e uma série de emergências caras, incluindo a pandemia.
Mais urgentemente, enquadra uma batalha iminente no Congresso sobre o teto da dívida, o limite legal que os Estados Unidos podem tomar emprestado para pagar os gastos existentes. O governo poderia ultrapassar esse limite já em maio, relatou o órgão nesta semana.
Para os menos permissivos, o medo é que a carga da dívida dos EUA possa levar a uma instabilidade econômica à medida que o custo do endividamento se torna mais caro
Quanto mais tempo o problema permanecer sem solução, maiores serão os efeitos em cadeia, e mais difícil poderá ser para as autoridades calibrar impostos e gastos federais de uma forma que não cause dor financeira a famílias e empresas.
As dinâmicas já levaram agências de classificação de crédito, incluindo a Fitch, a rebaixar a classificação dos Estados Unidos nos últimos anos. Embora essas empresas mantenham a perspectiva de que a dívida dos EUA é segura, elas ainda levantaram o alarme de que os custos de financiamento estão crescendo —enquanto a polarização crescente em Washington complica quaisquer esforços para resolver o problema.
O órgão ecoou algumas dessas preocupações, relatando que a taxa na qual os Estados Unidos acumulam dívida poderia ter “implicações de longo alcance” sentidas tanto pelo governo quanto por seus cidadãos, que poderiam experimentar custos mais altos de empréstimos ao consumidor também.
Segundo o Congressional Budget Office, parte do problema é uma população envelhecida, à medida que mais idosos recebem pagamentos de aposentadoria da Previdência Social e seguro de saúde através do Medicare.
Analistas do Congresso antecipam que a demanda pela Previdência Social pode esgotar seu fundo em 2034, ameaçando os benefícios dos idosos, enquanto o principal fundo do Medicare poderia se esgotar em 2052.
No entanto, ainda há pouco apetite em Washington por uma luta sobre esses programas de rede de segurança social.
Enquanto o governo Trump afirma que não planeja cortar a Previdência Social, o Medicare ou o Medicaid, o presidente e seus aliados atacaram os programas nas últimas semanas como uma fonte de desperdício, fraude e abuso, e Elon Musk referiu-se à Previdência Social como um “esquema Ponzi” e “o grande a ser eliminado”.
Por enquanto, Trump prometeu buscar cortes significativos em outras áreas de gastos federais, principalmente visando programas que abordam mudanças climáticas, educação, saúde, ciência e a força de trabalho.
Com a ajuda de Musk, o governo já se moveu para congelar ou cancelar bilhões de dólares em ajuda federal, enquanto demite milhares de trabalhadores federais e tenta fechar agências inteiras, incluindo o Departamento de Educação.
“Se eles melhorarem a eficiência do governo, isso ajudaria no lado da arrecadação de receitas”, disse Phillip Swagel, diretor do Congressional Budget Office , durante uma entrevista à CNBC, acrescentando que a “volatilidade pode ir na outra direção, e a mudança é difícil.”
Espera-se que o presidente inclua muitos cortes de gastos —e recomende outros— como parte de seu Orçamento de 2026, que a Casa Branca deve produzir neste próximo trimestre.
Esse documento também deve refletir a crença de Trump de que suas tarifas amplas e agressivas poderiam gerar novas receitas, o que poderia ajudar a pagar pelas obrigações financeiras e pela agenda política do presidente, incluindo cortes de impostos.
Os republicanos visam impedir que os impostos aumentem sobre as empresas e a maioria dos indivíduos, embora Trump espere ir mais longe, eliminando impostos sobre gorjetas e horas extras dos trabalhadores, entre outras propostas.
Algumas estimativas iniciais sugerem que todo o impulso da agenda econômica do presidente poderia adicionar até US$ 15 trilhões à dívida na próxima década.
Por enquanto, os legisladores da Câmara deram os primeiros passos no debate: em fevereiro, adotaram um orçamento que prevê US$ 4,5 trilhões em cortes de impostos e uma redução de US$ 2 trilhões nos gastos federais ao longo de uma década.
Uma vez que os legisladores do partido na Câmara cheguem a um compromisso com seus colegas no Senado, os republicanos podem começar o trabalho árduo de avançar com o pacote fiscal através do processo legislativo de via rápida conhecido como reconciliação.
“Devemos controlar os gastos desperdiçados de Washington, restaurar a liberdade econômica e liberar a prosperidade na América mais uma vez”, disse o deputado republicano Jodey Arrington, que lidera o Comitê de Orçamento da Câmara, em um comunicado.