Os Estados Unidos colocaram dezenas de entidades chinesas em uma lista negra de exportação na primeira grande iniciativa da administração Trump para conter a capacidade da China de desenvolver chips avançados de IA (inteligência artificial), armas hipersônicas e tecnologias relacionadas ao setor militar.
O Departamento de Comércio dos EUA adicionou na terça-feira (25) mais de 70 grupos chineses à “lista de entidades”, exigindo que qualquer empresa americana que venda tecnologia a eles obtenha uma licença. Na maioria dos casos, o pedido de licença é negado.
Entre os grupos listados estão seis subsidiárias chinesas da Inspur, uma grande empresa de computação em nuvem que já trabalhou com a fabricante americana de chips Intel, incluindo uma baseada em Taiwan. A administração Biden incluiu a Inspur na lista em 2023, mas foi criticada por não adicionar suas subsidiárias. A Inspur não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Os EUA afirmaram que as subsidiárias foram alvo por ajudarem a desenvolver supercomputadores para uso militar e por obterem tecnologia fabricada nos EUA para apoiar projetos da China e do Exército de Libertação Popular. Acrescentaram que elas desenvolveram grandes modelos de IA e chips avançados para fins militares.
“Não permitiremos que adversários explorem a tecnologia americana para fortalecer seus próprios militares e ameaçar vidas americanas”, disse Howard Lutnick, Secretário de Comércio dos EUA.
“Estamos comprometidos em usar todas as ferramentas à disposição do departamento para garantir que nossas tecnologias mais avançadas não cheguem às mãos daqueles que buscam prejudicar os americanos.”
Os EUA não forneceram evidências públicas para justificar a inclusão da BAAI (Academia de Inteligência Artificial de Pequim) na lista negra por apoiar a modernização militar da China. A BAAI é um instituto de pesquisa em IA sem fins lucrativos líder, criado em 2018 para unir indústria e academia. Ela lança regularmente modelos de IA de código aberto e outras ferramentas e realiza uma conferência anual para reunir especialistas globais na área. A BAAI não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
A inclusão da BAAI na lista vem após Washington ter mirado a Zhipu em janeiro. A start-up é uma das líderes entre os grupos chineses de IA que desenvolvem modelos de linguagem de grande escala.
Na maioria dos casos, as restrições se aplicarão a empresas não americanas que exportam produtos contendo tecnologia dos EUA para os grupos chineses, sob uma ferramenta extraterritorial conhecida como “regra do produto direto estrangeiro”.
Os EUA também miraram quatro grupos —Henan Dingxin Information Industry, Nettrix Information Industry, Suma Technology e Suma-USI Electronics— que estão envolvidos no desenvolvimento de supercondutores em escala de exa para fins militares, como modelagem de armas nucleares.
Washington disse que esses grupos forneceram “capacidades significativas de manufatura” à Sugon, uma fabricante avançada de servidores de computador colocada na lista de entidades em 2019 por construir supercomputadores para uso militar.
A embaixada chinesa em Washington afirmou que os EUA “estenderam repetidamente o conceito de segurança nacional e abusaram do poder estatal para perseguir empresas chinesas”.
“Nos opomos firmemente a esses atos dos EUA e exigimos que parem imediatamente de usar questões relacionadas ao setor militar como pretextos para politizar, instrumentalizar e militarizar questões de comércio e tecnologia, e que deixem de abusar de ferramentas de controle de exportação, como listas de entidades, para suprimir empresas chinesas”, disse Liu Pengyu, porta-voz da embaixada.
A administração Biden impôs controles de exportação à China mirando computação quântica e chips de IA sob sua política de “pátio pequeno, cerca alta”. Mas críticos a acusaram de não fechar brechas que permitiram a algumas empresas chinesas evitar restrições.
Meghan Harris, especialista em políticas de semicondutores da Beacon Global Strategies, disse que é revelador que a primeira ação significativa em controles de exportação “corrija o que era visto como uma grande lacuna na listagem da Inspur pela administração Biden, que deixou grandes subsidiárias sem restrições”.
“Embora seja uma primeira ação sólida da equipe de Trump, que será vista como um fortalecimento dos controles e correção de erros, levará um pouco mais de tempo para lidar com as decisões políticas mais pesadas”, acrescentou ela.
Jeffrey Kessler, subsecretário de comércio para indústria e segurança, disse que seu bureau está “enviando uma mensagem clara e ressonante” de que a administração impedirá que a tecnologia dos EUA “seja mal utilizada para computação de alto desempenho, mísseis hipersônicos, treinamento de aeronaves militares e [veículos aéreos não tripulados] que ameaçam nossa segurança nacional”.
Os EUA também adicionaram 10 entidades baseadas na China, África do Sul e Emirados Árabes Unidos à lista por ligações com a Test Flying Academy da África do Sul, uma escola de voo que Washington incluiu na lista em 2023 após descobrir que ela contratava pilotos de caça ocidentais, incluindo do Reino Unido, para treinar pilotos chineses.