O comissário de comércio da UE (União Europeia), Maros Sefcovic, reuniu-se nesta terça-feira (25) com as principais autoridades de comércio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para tentar evitar tarifas elevadas obre produtos do bloco na próxima semana, mas os resultados das conversas não foram claros.
Sefcovic afirmou ter mantido “conversas substanciais” com o secretário de Comércio Howard Lutnick, o representante de Comércio dos EUA Jamieson Greer e o principal conselheiro econômico da Casa Branca, Kevin Hassett.
Duas discussões anteriores com as autoridades americanas já não tinham alterado os planos de Trump de aumentar as tarifas de importação dos EUA para igualar as taxas cobradas pelos principais parceiros comerciais e contrabalançar suas barreiras comerciais não tarifárias.
“O trabalho árduo continua. A prioridade da UE é um acordo justo e equilibrado em vez de tarifas injustificadas”, disse Sefcovic em uma publicação no X. “Compartilhamos o objetivo de força industrial em ambos os lados.”
Um porta-voz do departamento de comércio dos EUA não respondeu a um pedido de comentário sobre as discussões.
As reuniões ocorreram enquanto alguns países estão preparando concessões antes do anúncio de Trump em 2 de abril sobre o plano de tarifas recíprocas, dia que ele apelidou de “dia da libertação” para a economia dos EUA das práticas comerciais injustas.
A Reuters informou nesta terça que a Índia está aberta a reduzir tarifas em mais da metade das importações dos EUA, avaliadas em US$ 23 bilhões, na primeira fase. O país tem uma das maiores taxas médias de tarifas ponderadas pelo comércio, de 12,1%, em comparação com 2,5% para os EUA, de acordo com a Organização Mundial do Comércio.
Uma delegação dos EUA liderada pelo Assistente do representante de Comércio dos EUA, Brendan Lynch, está em Nova Délhi esta semana para conversas comerciais com autoridades indianas de terça a sábado, informou a embaixada americana na capital indiana.
Trump disse na segunda-feira (24) que pode dar “muitas concessões” a países sobre tarifas, mas não forneceu detalhes. Ele também afirmou que tarifas separadas sobre automóveis, produtos farmacêuticos e alumínio estão chegando “em um futuro muito próximo.”
As autoridades da UE têm lutado para convencer Trump a recuar de uma guerra comercial, enquanto ele embarca em uma ofensiva tarifária multifacetada que se espera provocar fortes medidas retaliatórias. Sefcovic disse na semana passada que pouco progresso foi feito nas conversas com Washington depois que Trump impôs as tarifas de 25% sobre importações de aço e alumínio no início deste mês.
“Eles discutirão muitos dos mesmos assuntos que têm discutido nas últimas semanas, que são as relações comerciais UE-EUA, e do nosso ponto de vista, por que devemos fazer todos os esforços de ambos os lados para evitar tarifas prejudiciais e construir, em vez de destruir, a relação comercial e econômica UE-EUA, que é a mais forte do mundo”, antecipou o porta-voz da Comissão Europeia, Olof Gill, a repórteres na segunda.
Sefcovic afirmou que a UE estava disposta a discutir a redução de tarifas automotivas, incluindo a tarifa de 10% da UE sobre carros e a de 25% dos EUA sobre caminhões.
SEM PRESSA PARA O CANADÁ
O primeiro-ministro canadense, Mark Carney, disse a repórteres em Halifax que o Canadá estava preparado para impor medidas comerciais retaliatórias contra os EUA, dependendo das ações comerciais de Trump em 2 de abril. O republicano também ameaçou encerrar a trégua de um mês para produtos em conformidade com o acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá.
Mas Carney afirmou que o país não estava com pressa de negociar com Trump, com quem ele não falou desde que assumiu o cargo, acrescentando que deseja “discussões substanciais” entre nações soberanas —uma referência às frequentes demandas de Trump de que o Canadá deveria ser anexado pelos EUA.
“Não estamos com pressa de ir à mesa para aceitar algo. Discussões sérias, nação soberana para nação soberana, ‘Canadá forte’ contra a América como iguais, e é assim que conseguiremos o melhor acordo para o Canadá “, afirmou Carney.
CAUTELA SOBRE ALÍVIO
Autoridades da Casa Branca alertaram que países que buscam alívio tarifário antecipado provavelmente não conseguirão evitar tarifas completamente, pois os cálculos do plano recíproco de Trump incluirão barreiras não tarifárias, políticas cambiais e outros fatores que são mais difíceis de reverter.
A UE atrasará seu primeiro conjunto de contramedidas para meados de abril, incluindo uma tarifa de 50% sobre o bourbon dos EUA. Em resposta, Trump ameaçou impor uma tarifa de 200% sobre todos os vinhos e outros produtos alcoólicos da UE se o bloco impor tarifas retaliatórias.
Autoridades de Trump, incluindo o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmaram que grande parte das tarifas recíprocas será voltada para os 15 países que têm os maiores superávits comerciais de bens com os EUA. Bessent referiu-se a esses parceiros como os “15 sujos.”
Eles não nomearam esses países, mas de acordo com dados do U.S. Census Bureau, os seguintes parceiros comerciais tiveram os maiores superávits comerciais com os EUA: China, UE (como bloco), México, Vietnã, Taiwan, Japão, Coreia do Sul, Canadá, Índia, Tailândia, Suíça, Malásia, Indonésia, Camboja e África do Sul.
Em um pedido de comentários públicos sobre as tarifas recíprocas, o Escritório do Representante de Comércio dos EUA expressou interesse particular em submissões para os maiores parceiros comerciais e aqueles com os maiores superávits comerciais de bens.
O departamento de Comércio nomeou Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, União Europeia, Índia, Indonésia, Japão, Coreia, Malásia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Suíça, Taiwan, Tailândia, Turquia, Reino Unido e Vietnã como de interesse particular, acrescentando que eles cobrem 88% do comércio total de bens com os EUA.
Colaboraram David Ljunggren em Ottawa e Sarita Chaganti Singh, Aftab Ahmed e Manoj Kumar em Nova Delhi