A popularidade do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, caiu a mínimas históricas. O motivo principal são os desafios econômicos que afetam líderes ao redor do mundo, mais do que erros de suas próprias políticas, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em uma entrevista.
A inflação acelerada e o crescimento desacelerado pesaram sobre Lula, minando a confiança de investidores e brasileiros nos últimos meses. Mas problemas semelhantes já haviam agitado os mercados financeiros e alterado a política global antes mesmo do retorno de Donald Trump ao poder, que aumentou a incerteza econômica internacional.
O governo de Lula pretende manter seu curso em vez de reagir com alarme, segundo Haddad. “Pode ter havido um ou dois erros, mas o projeto geral está indo na direção certa”, disse ele à Bloomberg News, na quinta-feira (27), em seu escritório em Brasília.
“Estamos em um momento difícil para governos ao redor do mundo. Não é uma época fácil para ninguém”, afirmou.
Isso pode oferecer pouco consolo imediato aos brasileiros, que enfrentam custos alimentares crescentes. Em fevereiro, 53% deles disseram desaprovar Lula, segundo o LatAm Pulse, pesquisa conduzida pela AtlasIntel para a Bloomberg News.
Haddad reconheceu que os custos mais altos deixaram os brasileiros “desconfortáveis”, mas disse estar confiante de que uma abordagem paciente trará melhora na economia.
O Banco Central elevou as taxas de juros para 14,25% –o maior nível em nove anos– na semana passada. Segundo Haddad, a estabilização do real, que ganhou cerca de 7% contra o dólar este ano, ajudará a reduzir os preços.
“Parte da inflação é resultado do fortalecimento do dólar”, disse ele. “Não controlamos todas as variáveis internacionais, e muitas vezes nem mesmo as domésticas.”
MEDIDAS ESTRUTURAIS
Os investidores não estão tão certos. A inflação está projetada para permanecer acima da meta de 3% do Banco Central até 2028.
Os traders esperam que a Selic suba para pelo menos 15,5% até o final do ano. O Banco Central reduziu sua previsão de crescimento para 2025, de 2,1% para 1,9%.
Os mercados financeiros, já preocupados com as contas fiscais e a dívida pública, temem que a queda na aprovação de Lula o leve a aumentar gastos para recuperar apoio.
O governo anunciou novas medidas para beneficiar eleitores pobres e da classe trabalhadora. A principal foi um plano para isentar salários mensais de até R$ 5.000 do Imposto de Renda – proposta que causou uma venda de moeda no fim do ano passado.
Haddad negou que as medidas visem aumentar a aprovação, dizendo que fazem parte de uma “reforma estrutural” da economia, com resultados de longo prazo.
A reforma tributária, segundo ele, é um pilar dos esforços de Lula para reduzir desigualdades, já que os pobres acabam pagando mais impostos que os ricos.
Um novo programa de crédito para trabalhadores do setor privado busca conter o endividamento das famílias, permitindo que renegociem empréstimos com juros mais baixos.
Os formuladores de políticas ainda não analisaram o impacto do programa de empréstimos, disse Gabriel Galípolo, chefe do Banco Central.
Haddad minimizou preocupações de que as medidas dificultem o trabalho do Banco Central. Segundo ele, as propostas são “bem pensadas” e improváveis de ter um “forte impacto” na inflação.
“Não é possível demonstrar um compromisso com a responsabilidade fiscal mais do que o presidente Lula já demonstrou”, disse Haddad.
“Essa proposta de reforma tributária estava em sua plataforma de 2022. Não tem nada a ver com pesquisas eleitorais, nem com aprovação.”
As dificuldades de Lula, de 79 anos, somadas à sua cirurgia cerebral de emergência em dezembro, levantaram dúvidas sobre uma nova candidatura.
Mas Haddad, visto como possível herdeiro político, disse que Lula está saudável o suficiente para concorrer.
“Essa é uma pessoa cujo ritmo de trabalho é comparável ao de alguém 20 ou 30 anos mais jovem”, disse Haddad.
“Uma pessoa de 50 ou 60 anos que for acompanhar Lula terminará o dia mais cansada que ele.”
Haddad expressou preocupação com Trump. “É a primeira vez que vejo pessoas sérias falando e refletindo sobre a qualidade e a força da democracia nos Estados Unidos”, afirmou.
O Brasil busca diversificar parcerias econômicas com a Europa e o Oriente Médio enquanto enfrenta a turbulência internacional.
Mesmo com novas tarifas dos EUA sobre metais, Haddad vê pouca chance de uma guerra comercial entre os países.
“Não há razão para desviar de um comércio saudável que não traga vantagens exageradas para nenhuma das partes”, disse ele.
“A relação bilateral entre os Estados Unidos e o Brasil é equilibrada e respeitosa. Não vejo nenhum ganho em criar um problema que não existe – e que, na verdade, nunca existiu.”