O Itaú obteve liminar no TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) para ajuizar um imóvel que seu ex-diretor financeiro, Alexsandro Broedel, tenta vender em São Paulo. Com a decisão, o banco consegue bloquear parte do valor da mansão, avaliada em R$ 10 milhões, caso ela seja vendida futuramente.
Segundo informações do processo, o Itaú pede indenização de R$ 4,8 milhões de Broedel. Ele é acusado de conflito de interesses envolvendo a compra de pareceres de um consultor que é seu sócio. Atualmente, o executivo mora em Madri (Espanha) e atua como vice-presidente sênior do Santander.
O Itaú afirma que situação financeira dele é delicada. Segundo o banco, o executivo tem diversas execuções judiciais em andamento e foi arrolado em processos que estão correndo no Judiciário.
Em sua decisão, a juíza Larissa Gaspar Tunala, da 1ª Vara Empresarial e Conflitos de Arbitragem do TJ-SP, concordou que a venda do imóvel poderá comprometer o resultado do processo, além do risco de que Broedel fique sem dinheiro para pagar a indenização milionária pedida pelo Itaú.
“Resta bem caracterizada a delicada situação financeira de Alexsandro, com diversos apontamentos em seu desfavor, além de execuções ajuizadas contra si, de modo que a venda do imóvel descrito poderá comprometer o resultado útil deste processo, ainda mais se considerada a informação de que o correquerido já reside fora do país”, afirma na decisão a juíza.
Segundo o anúncio do imóvel em uma corretora imobiliária, a mansão está situada na região da Cidade Jardim, ponto nobre da capital paulista, e possui 861 m² de área construída com 1.038 m² de terreno. São quatro dormitórios, todos com closet, sendo a suíte master com dois banheiros. Além disso, possui sala de almoço, sala de jantar, sala de estar e sala de TV, piscinas, academia, churrasqueira e sauna.
À Folha a assessoria de Broedel afirmou que a venda do imóvel não foi bloqueada e a decisão do TJ-SP faz com que a existência da ação fique registrada para que o futuro comprador tenha conhecimento do caso.
A defesa do Itaú afirmou que a medida visa proteger o desfecho do processo, já que Broedel não mora no Brasil e está se desfazendo de seus bens, incluindo o único imóvel que possui em seu nome.
“Dessa forma, a decisão resguarda os interesses envolvidos e evita que a venda comprometa uma eventual indenização a ser paga,” disse o representante jurídico do Itaú, Victor Lamas, sócio do escritório Bermudes Advogados.
Broedel responde na Justiça por desvio de poder e gestão abusiva, conflituosa e irregular por supostamente ficar com parte de pagamentos de serviços contratados por ele para o Itaú. Segundo o banco, Broedel contratou serviços com a consultoria de Eliseu Martins, um dos maiores contadores do país, sem avisar que ele é seu sócio.
De acordo com as denúncias, Broedel ficava com 40% de todo o pagamento feito pela prestação de serviços —o que ele nega.
Após a descoberta do vínculo, o banco anulou, em dezembro do ano passado, a aprovação de contas de Broedel referentes aos anos de 2021 a 2023 e ajuizou duas ações contra o ex-executivo, que trabalhou na companhia por 12 anos.
A assessoria do ex-diretor financeiro nega todas as acusações, classificadas como “infundadas” e que Broedel vai tomar todas as medidas judiciais cabíveis. Também afirma que os pareceres de Eliseu Martins eram contratados pelo banco antes da entrada de Broedel na instituição.
A defesa argumenta que causa estranheza que o Itaú tenha levantado suspeitas sobre a suposta conduta imprópria somente após a renúncia de Broedel para assumir posição global no Santander.
INVESTIGAÇÃO NO MPF-SP
Nesta quinta, o Financial Times divulgou que Broedel será investigado pela polícia pelos supostos desvios cometidos no Itaú. O pedido foi encaminhado pelo MPF-SP (Ministério Público Federal em São Paulo).
O ex-diretor financeiro do Itaú chegou ao Santander em outubro e deve assumir como diretor de contabilidade do grupo espanhol nos próximos meses —um cargo que o tornará membro da equipe de alta administração do banco.
Segundo o Santanter, ele recebeu as aprovações dos reguladores, entre elas o teste de “idoneidade e adequação” do Banco Central Europeu para gestores seniores.