Como transformar destinos que foram quase que selados a partir de um local de nascimento? Como sonhar quando o ambiente em que estamos inseridos impõe limites tão rígidos? Como acreditar em si mesmo quando existem várias forças te empurrando para trás?
O enredo da pobreza não é somente sobre a privação de recursos, mas também como ela toca o interior de cada pessoa. Ela molda comportamentos, atrofia escolhas e reduz as possibilidades de realizações. Ela também tem um efeito cumulativo ao longo do tempo, corroendo gradativamente a capacidade de nossas crianças e adolescentes aspirarem a algo maior.
Sem as expectativas de ir além, parte relevante de nossa juventude deixa de confiar no contínuo aprimoramento de suas habilidades como algo que pode empurrá-la para a frente, fazendo com que a pobreza intergeracional se torne praticamente uma profecia autorrealizada.
Quando crescemos na pobreza, ficamos focados na sobrevivência de curto prazo. Em vários casos, não há espaço para um planejamento de longo prazo. Mesmo quando recebemos recursos, podemos ter dificuldade em mudar comportamentos.
O impacto psicológico da pobreza costuma incluir falta de confiança, baixa autoestima e o sentimento de impotência. Tal impacto tende a nos impedir de usar efetivamente as poucas oportunidades que podem surgir. Mudar essa mentalidade requer suporte, educação e tempo.
No livro “De Marte à Favela”, Aline Midlej e Edu Lyra exploram essa realidade com sensibilidade. Eles mostram o inspirador impacto que surge quando pessoas se unem em torno de uma visão compartilhada de mudança.
Midlej, com sua escrita envolvente e habilidade de dar voz a histórias que precisam ser ouvidas, narra na obra o trabalho da ONG Gerando Falcões, liderada por Lyra. A organização não busca apenas mitigar os sintomas da pobreza, mas também erradicá-la, enfrentando as mais variadas formas pelas quais ela se reproduz.
Por meio de parcerias com outras instituições e o setor público, a ONG tem transformado favelas pelo Brasil, mostrando que a mudança é possível quando rejeitamos o conformismo e nos comprometemos com a dignidade humana.
Ao abrir o livro, o leitor será convidado a enxergar a pobreza como um sistema repleto de desafios. Um sistema formado por elos de uma corrente que tende a aprisionar mentes e corações, mas que pode ser rompida pela força de nossas histórias individuais e coletivas.
São histórias como a de Amanda Oliveira, fundadora do Instituto As Valquírias, que aparece no livro trazendo um importante olhar sobre a pobreza ao destacar, por exemplo, seus efeitos sobre a mentalidade das pessoas.
Histórias como a do próprio Edu Lyra, que nasceu na pobreza e cuja trajetória se entrelaça com a de Maria Gorete, sua mãe, que lhe permitiu, mesmo na ausência de recursos, desenvolver a autoestima necessária para enxergar o mundo com outra perspectiva.
É exatamente por meio dessas histórias que aqueles que estão distantes dessa realidade terão a oportunidade de entender as camadas da pobreza e seus impactos sobre indivíduos e comunidades.
Entretanto, a obra não se limita a relatar dificuldades. Ela nos mostra que, mesmo diante de barreiras aparentemente intransponíveis, há espaço para esperança quando nos unimos em torno de uma causa. Ela nos revela a força de pessoas que decidiram agir para transformar vidas.