Imagine alguém entrando em um restaurante e perguntando ao garçom: “Esse prato é bom?”. A resposta, por si só, não significa muito. Depende do gosto da pessoa, da fome que ela tem, se prefere algo mais leve ou mais substancial. Nos investimentos, essa lógica também se aplica: não basta saber se um produto é “bom”, mas sim se ele é adequado para você. Muitos perguntam: “Tenho um CDB, é bom?” “Tenho ações, é bom?” “Tenho previdência privada, é bom?”. Embora essas perguntas pareçam naturais, focam o ponto errado. O problema não é se um produto isolado é bom ou ruim, mas se ele faz sentido dentro do seu planejamento financeiro.
O primeiro passo para qualquer decisão financeira não é avaliar um ativo isoladamente, mas entender as suas necessidades. Cada investidor tem objetivos distintos, perfis de risco diferentes e horizontes de investimento variados. O que funciona para uma pessoa pode ser totalmente inadequado para outra. Por isso, a pergunta correta não é “esse investimento é bom?”, mas sim “o que eu preciso para alcançar meus objetivos financeiros?”.
Por exemplo, alguém que deseja comprar um imóvel em poucos anos e investe tudo em ações pode enfrentar problemas caso o mercado passe por um período de queda. Nesse caso, a alocação deveria priorizar liquidez e previsibilidade. Já um investidor de longo prazo, que pode lidar com oscilações, pode se beneficiar mais de ativos com maior potencial de valorização, mesmo que apresentem volatilidade a curto prazo.
A falta de adequação do produto à carteira consolidada, ao planejamento financeiro e perfil do investidor rotineiramente leva a frustração ou ansiedade. Dois sentimentos que, normalmente, resultam em decisões erradas sobre a carteira e, consequentemente, piores retornos.
Nesse sentido, o planejamento financeiro é essencial. Ele deve considerar fatores como liquidez, necessidade de fluxo de caixa em diferentes horizontes de tempo, objetivo de retorno e tolerância ao risco.
Se um investidor precisa de liquidez para emergências, mas está todo alocado em ativos de longo prazo, ele pode enfrentar problemas como prejuízos na venda de produtos e até mesmo a impossibilidade de acessar os recursos. Se busca segurança, mas investe em ativos altamente voláteis sem estar preparado para as oscilações, pode tomar decisões impulsivas e prejudicar sua rentabilidade.
Muitas vezes a busca do produto ótimo é na verdade fruto da ganância de ganhar mais. Nos investimentos, ganância é a bússola que aponta para o abismo: seduz com promessas de ganhos fáceis, mas frequentemente conduz a decisões precipitadas e consequências desastrosas. Costumo lembrar a citação frequentemente atribuída a Sêneca: “Não é pobre o homem que tem pouco, mas o homem que deseja mais”.
Em vez de perguntar se um investimento é bom, a abordagem correta é avaliar se ele se encaixa na sua estratégia pessoal. Assim como um prato pode ser excelente para um paladar e inadequado para outro, um investimento pode ser ótimo para um perfil e ruim para outro. O melhor investimento não é aquele que todo mundo elogia, mas sim o que faz sentido para você. Antes de perguntar se um ativo é bom, pergunte se ele é bom para o seu planejamento financeiro.
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