Alguns caminhos parecem tranquilos demais para chamar atenção. Como aquele caminho no bairro, ignorado por quem só olha a avenida principal. Às vezes, são justamente esses caminhos discretos que levam mais longe, mais rápido e com mais segurança, mas precisa conhecer bem.
Enquanto fundos de ações e multimercados viraram manchete por causa dos resgates bilionários nos últimos 12 meses, um tipo de fundo cresceu em silêncio: os fundos de FIDC. Segundo a Anbima, apenas entre março de 2024 e de 2025, esses fundos captaram mais de R$ 125 bilhões. Um número expressivo, especialmente, se considerarmos que os fundos de renda fixa tradicionais captaram R$ 170 bilhões no mesmo período. E esta captação veio de investidores em busca de equilíbrio entre rentabilidade, risco e eficiência tributária.
A virada começou com o fim do benefício fiscal de ausência de come cotas dos fundos exclusivos. Muitos buscaram alternativas que mantivessem o diferimento do imposto e encontraram nos FIDCs uma solução inteligente e com algumas vantagens adicionais.
Uma delas é a baixa volatilidade. Como as cotas seniores destes fundos são marcadas na curva, funcionam quase como CDBs, sem oscilações bruscas no valor da cota. Isso traz maior previsibilidade e evita a ansiedade do sobe e desce nos retornos de vários fundos de renda fixa marcados a mercado.
Outro ponto relevante é a pulverização de risco de crédito. Em vez de concentrar a carteira em poucos emissores, como acontece em fundos de crédito privado, os fundos de FIDCs investem em centenas e às vezes milhares de recebíveis. Isso dilui o impacto de eventuais inadimplências e protege o investidor.
Além disso, há o chamado colchão de subordinação, um percentual da carteira absorve um percentual relevante de qualquer perdas antes que o investidor principal seja afetado. E esse percentual é recomposto sempre que é afetado. É como se, em um voo, você viajasse em um assento protegido por várias camadas de segurança.
Mas talvez o ponto mais interessante seja a alta revolvência dos créditos. Como boa parte dos recebíveis nesses fundos vencem em prazos curtos — geralmente em até 90 dias —, o gestor consegue ajustar rapidamente a carteira às novas condições de juros. Em um ambiente de alta da Selic, de volatilidade e incertezas, essa flexibilidade é valiosa. Também permite trocar setores e emissores com maior agilidade, mantendo o fundo exposto às oportunidades mais promissoras e fugindo dos segmentos com maior risco.
Claro, não é porque o caminho é mais seguro que ele dispensa atenção. Os fundos de FIDCs são instrumentos sofisticados e exigem análise criteriosa. A seleção do gestor e suas características como o percentual de subordinação, processo de seleção de crédito e a estrutura de proteção fazem toda a diferença entre um fundo robusto e um mais arriscado.
Mas o ponto central é que esses fundos oferecem uma nova forma de investir com sofisticação, previsibilidade e inteligência fiscal. Em um cenário em que os grandes movimentos do mercado já chamaram atenção demais, talvez seja hora de olhar para onde estão indo aqueles que costumam chegar mais longe — mesmo sem alarde.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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