Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o número de crianças com TEA (transtorno do espectro autista) no mundo passa dos 168 milhões. No Brasil, segundo o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças/EUA), em 2018 tínhamos um autista a cada 44 crianças com até oito anos de idade. Em 2023, foi constatado um aumento de 22% nesse número, uma a cada 36 crianças apresentava esse transtorno. Portanto, com base nos dados do Censo de 2022, temos no Brasil cerca de 5,6 milhões de crianças autistas.
Seguramente, essa geração de crianças vai se tornar adulta, e nossas cidades não estão preparadas, nem equipadas, para pessoas com as limitações inerentes às pessoas com autismo. Os ambientes urbanos contribuem para a sobrecarga sensorial, tem acesso limitado para as pessoas com deficiências neurológicas no transporte público, oferecem poucas oportunidades de emprego para essas pessoas, e o desenho urbano não leva em conta as características necessárias do espaço, para utilização da cidade por adultos com autismo.
Um dos aspectos mais importantes ao se desenhar uma cidade que inclua pessoas com autismo é a questão sensorial. A poluição sonora e visual das cidades, que pode causar medo e isolamento, são difíceis de controlar, mas é necessário tornar factível o projeto de intervenções urbanas que produzam alívio para as pessoas com TEA que transitem pela cidade.
Uma abordagem possível para aliviar a sobrecarga sensorial nessas pessoas é, dentro da malha urbana, desenhar caminhos alternativos. Rotas tranquilas e seguras, mapeadas com ferramentas digitais, como ciclovias silenciosas e passagens que, por meio de plantas e árvores, tragam a sensação de conforto e segurança ao ambiente.
Outro aspecto importante é a utilização de recursos visuais para a comunicação. Pesquisadores perceberam que esses recursos, se bem utilizados, encorajam a independência, constroem confiança, melhoram a compreensão e, com isso, evitam frustração e ansiedade. Na ambiência confusa das cidades, o uso de determinadas imagens e símbolos pode ajudar as pessoas com autismo a compreender o seu entorno.
Áreas de refúgio podem ser outro componente essencial no desenho da cidade para pessoas com TEA. Se forem projetados espaços seguros, tranquilos, com muito verde, e materiais com texturas amigáveis e cores brandas, indivíduos com autismo podem andar pela rua com a tranquilidade de que, se tiverem algum tipo de sobrecarga emocional, contarão com um ambiente protegido para usar como refúgio até que se reestabeleçam.
Resultados de pesquisas têm mostrado ser um dos principais fatores que contribuem para a ansiedade do autista no ambiente urbano o barulho do trânsito. Portanto, é fundamental desenvolver mecanismos e medidas de mitigação desses efeitos sensoriais, trabalhando em escala local. Redução da velocidade dos veículos e diminuição do volume de automóveis que ali circulam terão efeito bastante positivo para esses indivíduos, melhorando a segurança e permitindo sua circulação a pé.
O autismo é uma condição cada vez mais presente, e reconhecida como negativamente impactada pelo ambiente urbano. Com um número crescente de crianças diagnosticadas com o autismo, vem o dilema do que acontecerá com essas crianças quando se tornarem adultas, e tiverem que utilizar os espaços urbanos. Uma cidade não será plenamente inclusiva se não incentivar projetos e intervenções com orientações e desenho específicos para pessoas portadoras do transtorno do espectro autista.
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