A Tupy, uma companhia que valia quase R$ 3 bilhões, despencou na Bolsa com a indicação de Rafael Lucchesi, atual presidente do conselho do BNDES, para ser CEO da metalúrgica no lugar de Fernando Rizzo.
O banco estatal detém 28,2% de participação na Tupy e a Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, outros 24,8%. Juntos, eles controlam a empresa com seis dos nove assentos do conselho. Na última sexta (21), os minoritários —juntos eles possuem cerca de 36% das ações— reuniram-se remotamente. Todos, com exceção da Trígono, que não participou, disseram-se surpreendidos.
Não houve consenso, então?
Somos o segundo maior minoritário (4,5% das ações) e recebemos a notícia [da troca de CEO] com surpresa. Não só não compusemos, como não comporíamos. Temos muita dificuldade de entender por que algum minoritário concordaria com isso.
Por quê?
Não havia motivo para mudança. O CEO atual, o Fernando [Rizzo], é um dos arquitetos da recuperação e criação da nova Tupy. Ele é muito admirado pelos investidores e pelo seu time, que faz um excelente trabalho. Caso se confirme a troca, ele estaria sendo tirado no momento em que um trabalho de anos será materializado nos resultados.
O contrato dele não vence no fim de abril?
Todos os mandatos de diretores estatutários têm um prazo. O que nos surpreende é que essa avaliação, primeiro, levasse à troca porque ele poderia, inclusive, ser reconduzido. E, segundo, que não tenha havido um nome interno para a substituição porque a Tupy tem um plano de sucessão e excelentes executivos.
Desaprovam a indicação?
Não conheço o indicado [Rafael Lucchesi]. Mas é natural que a gente não veja que ele tem os pré-requisitos esperados de um CEO.
Como assim?
Sua carreira é no terceiro setor, na CNI [Confederação Nacional da Indústria], no Sistema S, uma carreira que não é típica de um executivo de empresa.
Existem mais minoritários descontentes?
Sim, mas não vou e nem posso falar por eles. A essa altura isso já é público. É só fazer uma busca nas redes sociais. Muitos deles já postaram [Cesar Paiva, gestor da Real Investor, e Christian Keleti, da Alpha Key fizeram postagens no X].
Não tem nenhum minoritário a favor?
De todos, somente a Trígono não se mostrou surpresa.
Por quê?
Melhor perguntar para eles.
[A Trígono afirmou que a avaliação e a indicação da nova diretoria fazem parte de um processo regular, que será submetido à votação de todos os conselheiros, inclusive aqueles indicados pelos acionistas minoritários].
Qual a explicação para a mudança?
Até o momento o conselho [de administração] não deu a justificativa.
Ele pode fazer a mudança?
O conselho é o responsável pela eleição do CEO. E, sim, se achar conveniente, pode trocar, demitir ou contratar.
O indicado cumpre os pré-requisitos?
Estamos aguardando a manifestação do conselho sobre isso. Se houver a materialização de processos contrários à governança ou quebras de dever fiduciário, temos a obrigação de tomar as medidas cabíveis.
Pelo estatuto, precisa haver processo seletivo?
Não é uma obrigatoriedade. A obrigação é escolher a melhor opção.
Não parece ter havido nada de irregular. Mesmo assim, as ações caíram. Por quê?
Sem ser especulativo, um motivo que me parece fazer sentido é a existência de uma visão muito positiva sobre o trabalho do Fernando como CEO. A segunda razão é que, quando você olha o currículo [do indicado], não parece o currículo típico de um CEO. E aí a leitura mais natural é que foi uma indicação política.
[O BNDES disse que a indicação segue o que determina o estatuto da companhia com o fim do mandato do CEO e que Lucchesi cumpre todos os pré-requisitos].
Raio-X
Camilo Marcantonio, 43
Engenheiro formado pelo IME com MBA pela Harvard Business School, fez carreira no mercado financeiro, ocupando posições em conselhos de administração de empresas como Klabin, Nortec e Brasilagro. Desde novembro de 2011 é CIO (Chief Investment Officer) da Charles River Capital.
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