As tarifas impostas pelos EUA e por outros países em retaliação levaram compradores de jatos executivos a tentarem apressar as entregas ou adicionar cláusulas contratuais para se protegerem das tarifas, à medida que o setor de aviação se prepara para custos mais altos de materiais de fabricação de aviões, disseram especialistas do setor.
O Canadá e a União Europeia responderam na quarta-feira (12) com tarifas retaliatórias contra os Estados Unidos, depois que a Casa Branca introduziu tarifas de 25% sobre todo o aço e alumínio importados pelos EUA —metais que são usados na fabricação de aviões.
Em abril, os EUA devem impor tarifas adicionais ao México e ao Canadá.
Fabricantes de jatos particulares ou comerciais, como a canadense Bombardier, a General Dynamics, a Gulfstream Aerospace e a Textron, viram suas carteiras de pedidos crescerem devido à demanda de viajantes ricos e clientes corporativos.
Embora os fabricantes de aviões comerciais, como a Boeing e a Airbus, e os grandes fornecedores do setor aeroespacial não tenham alertado sobre nenhum impacto importante na produção e nas entregas de aeronaves, as tarifas que pressionaram os mercados financeiros estão criando incertezas para investidores e compradores.
A Bombardier não divulgou previsões este ano devido à ameaça de tarifas, enquanto alguns grupos comerciais sinalizaram preocupações de que uma guerra comercial prolongada atingiria uma cadeia de suprimentos aeroespacial globalmente integrada.
Amanda Applegate, sócia da Soar Aviation Law, disse que viu alguns compradores de jatos particulares de fora dos EUA acrescentarem cláusulas para se protegerem de custos mais altos se suas compras forem atingidas por tarifas.
Outros estão tentando fechar negócios rapidamente, antes que novas tarifas sejam aplicadas. Um comprador europeu de um jato particular dos EUA está tentando apressar a transação, disse Katie DeLuca, sócia do escritório de advocacia Harper Meyer, com sede na Flórida.
“É isso que tenho visto nessa área, essa transação apressada, exportar o jato, levá-lo para a Europa antes que surja um possível problema”, disse DeLuca em um webinar realizado na terça-feira (11) pela Associação Nacional de Aviação Executiva dos EUA.
DeLuca acrescentou que também presenciou uma transação na qual um comprador norte-americano tentou rescindir um acordo com um vendedor de fora dos EUA para uma aeronave canadense usada baseada no exterior.
Um porta-voz da Bombardier disse que suas peças são distribuídas a partir de Chicago e que seus aviões podem ser entregues a clientes nos EUA sem incorrer em tarifas no maior mercado mundial de aviões particulares, já que a empresa está em conformidade com o acordo comercial entre EUA, México e Canadá.
A isenção de tarifas dos EUA para produtos do México e do Canadá em conformidade com o USMCA está prevista para terminar em abril.
CUSTOS DAS PEÇAS
A Associação das Indústrias Aeroespaciais e uma coalizão que inclui companhias aéreas e fabricantes de jatos executivos dos EUA alertaram para o fato de as tarifas atingirem a cadeia de suprimentos do setor, que produz peças essenciais.
“É essencial que tanto o governo quanto o setor trabalhem juntos para minimizar as interrupções de custo e disponibilidade na cadeia de suprimentos da aviação, que, em muitos casos, não podem ser resolvidas com facilidade ou rapidez”, disse a entidade.
O presidente-executivo da Airbus, Guillaume Faury, disse em um programa de TV francês na terça-feira que está começando a ver interrupções na cadeia de suprimentos da fabricante de aviões europeia, sem fornecer detalhes.
No entanto, cinco fornecedores do setor aeroespacial comercial dos EUA disseram à Reuters que não registraram nenhum aumento de preço significativo devido às tarifas ou à ameaça de tarifas. Dois deles disseram que encomendam materiais com até 6 a 12 meses de antecedência e não observaram nenhuma flutuação perceptível nos preços do alumínio ou do aço.
Um fornecedor disse que sua empresa na área de Seattle não está mudando seus planos de negócios por enquanto, pois não espera que as tarifas perdurem.
Aengus Kelly, presidente-executivo da maior empresa de leasing de aeronaves do mundo, a AerCap, alertou na quarta-feira, na CNBC, que o preço de um avião Boeing 787 poderia aumentar em US$ 40 milhões na pior das hipóteses devido às tarifas. A Boeing não fez comentários imediatos.