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A decisão de Donald Trump de impor tarifas amplas a parceiros comerciais dos Estados Unidos desencadeou uma corrida por alternativas para apaziguar Washington, em uma breve janela antes da entrada em vigor das medidas.
A ordem executiva do presidente dos EUA sobre as tarifas sinalizou algum possível alívio aos países que tomam “medidas significativas” para corrigir superávits comerciais com os EUA e abordar práticas fiscais, regulatórias e de licenciamento consideradas injustas.
Mas os governos têm menos de uma semana para negociar. Trump disse na quarta-feira (2) que tarifas “recíprocas” mais altas seriam aplicadas a partir de 9 de abril, e sua tarifa básica de 10% a partir deste sábado (5).
Figuras importantes do círculo de Trump, incluindo seu filho Eric em uma postagem nas redes sociais, incentivaram as nações a oferecer concessões aos EUA. “Eu não gostaria de ser o último país a tentar negociar um acordo comercial com @realDonaldTrump”, disse no X.
Cerca de 60 nações que têm os maiores superávits comerciais com os EUA —incluindo aliados estratégicos importantes como a UE, Japão e Coreia do Sul— enfrentam tarifas extras superiores a 10%, com algumas chegando a 50% ou mais no total.
Poucas delas se moveram para retaliar. Em uma tentativa de reduzir sua tarifa de 20%, a UE está preparada para cortar o superávit comercial de US$ 235,6 bilhões que acumulou em 2024 comprando mais produtos dos EUA e reduzindo algumas tarifas.
Bruxelas ofereceu reduzir as tarifas de carros de 10% para o nível de 2,5% de Washington, disseram autoridades com conhecimento das negociações. Também poderia aumentar as compras de energia, comprar mais armas americanas ou se juntar a ações dos EUA contra o dumping de produtos chineses.
Autoridades da UE acreditam que quedas no mercado de ações e a perspectiva de inflação mais alta pressionarão os EUA a negociar. Maros Sefcovic, chefe de comércio do bloco, tinha conversas virtuais marcadas com seus homólogos dos EUA nesta sexta.
Ainda assim, os dois lados têm diferenças significativas: a UE rejeitou as acusações dos EUA de que seus sistemas de imposto sobre valor agregado discriminam empresas americanas e descartou comprometer-se com regras de segurança alimentar e de produtos para permitir, por exemplo, frango americano lavado com cloro.
As drásticas tarifas globais de Trump, que derrubaram os mercados, foram introduzidas apesar das tentativas de países como Japão e Israel de antecipar as cobranças com medidas que poderiam acalmar o presidente.
Um dia antes do anúncio de Trump, Israel havia eliminado suas tarifas restantes sobre importações dos EUA —apenas para ser atingido da mesma forma, com uma tarifa de 17%.
O Japão, por sua vez, prometeu nos últimos meses aumentar as importações de GNL (gás natural liquefeito) dos EUA e investir em seu projeto de gasoduto no Alasca, e insinuou fortemente que planos para aumentar os gastos com defesa beneficiariam contratantes americanos. Trump também pôde anunciar um pacote de investimento em infraestrutura de inteligência artificial de US$ 500 bilhões que o SoftBank lideraria.
Nada disso pareceu ajudar: o Japão foi atingido com uma tarifa de 24%, apesar de ser um importante parceiro de segurança dos EUA na região.
Autoridades japonesas disseram que o fracasso dessas ofertas levantou questões sobre se mais agrados —potencialmente incluindo mais compras de GNL e investimento corporativo— trariam resultados. Funcionários disseram que não está claro se existe algo que o Japão ou empresas japonesas possam oferecer para agradar o governo americano e mudar a postura de Trump, como em seu primeiro mandato.
A Coreia do Sul, há muito na mira de Trump por causa de seu persistente superávit comercial com os EUA —um recorde de US$ 55 bilhões no ano passado— enfrenta uma longa lista de queixas comerciais dos EUA, incluindo regulamentos restritivos de emissões de automóveis, preços opacos de produtos farmacêuticos, recusa em importar certa carne bovina americana e taxas impostas a provedores de conteúdo dos EUA, como a Netflix.
Analistas disseram que Seul poderia comprar mais GNL e armas dos EUA, afirmando que o país tinha alguma alavancagem porque suas empresas fornecem a única alternativa viável aos rivais chineses em setores estratégicos importantes, como construção naval e semicondutores.
Han Duck-soo, presidente interino da Coreia do Sul, disse que o governo faria “esforços totais” para minimizar as perdas para as empresas coreanas com a adoção da tarifa de 26%.
Outros países menores do Sudeste Asiático atingidos com tarifas substanciais, como Vietnã e Camboja, têm vantagens menos óbvias, embora forneçam grandes volumes de bens manufaturados de baixa tecnologia aos EUA, incluindo roupas, calçados e eletrodomésticos.
O Vietnã, que emergiu como uma potência manufatureira nos últimos anos à medida que as empresas transferiram a produção da China, enfrenta uma das tarifas mais altas, de 46%.
Isso ocorreu apesar de suas ofertas para reduzir tarifas sobre produtos dos EUA e comprar mais GNL, aviões da Boeing e produtos agrícolas. No mês passado, o Vietnã fez concessões para permitir que a SpaceX, de Elon Musk, aliado de Trump, testasse a internet via satélite Starlink no país.
A Índia também tentou apaziguar preventivamente o líder dos EUA, estabelecendo concessões em produtos como bourbon, motocicletas, carros de luxo e células solares.
Quando o primeiro-ministro Narendra Modi visitou a Casa Branca no mês passado, os dois países disseram que estavam abrindo negociações sobre um acordo comercial —que parecia explicitamente ligado à ameaça de tarifas recíprocas de Trump— e pretendiam concordar com a primeira parcela até o outono.
O país foi atingido com uma tarifa de 27% esta semana. O governo de Modi manteve que ainda pretendia avançar em um acordo comercial “nos próximos dias”. Assim como na Europa, não se espera que Nova Délhi abra seus mercados agrícolas por medo de uma reação política dos agricultores.
Na América Latina, dois dos maiores parceiros comerciais regionais dos EUA, Brasil e Argentina, escaparam das taxas mais altas, ficando com a tarifa mínima de 10%.
Javier Milei, presidente libertário da Argentina —e aliado entusiasta de Trump, apesar das diferenças ideológicas sobre o comércio— disse repetidamente que quer um acordo de livre-comércio com os EUA. Ele celebrou a tarifa relativamente baixa dizendo no X que “amigos serão amigos” e compartilhando um link para a música com esse mesmo nome da banda Queen.
Em Mar-a-Lago, onde Milei recebeu um prêmio de um grupo conservador nesta sexta, e seu ministro das Relações Exteriores, Gerardo Werthein, se encontraram com autoridades de comércio dos EUA. O argentino disse que irá mudar a legislação de seu país para se adaptar às tarifas.
A África do Sul, já em conflito diplomático com Trump por suas leis de ação afirmativa, era outra nação com esperanças de um acordo. Exportou US$ 8,1 bilhões em mercadorias para os EUA no ano passado, cerca de metade das quais eram minerais críticos, como platina usada em automóveis.
Sua punição foi uma tarifa de 31%, mas o presidente Cyril Ramaphosa disse que a medida de Trump “afirmou a urgência de negociar um novo acordo comercial bilateral e mutuamente benéfico”.
Donald MacKay, chefe da XA Global Trade Advisors na África do Sul, disse que pequenas economias precisavam encontrar maneiras de evitar confrontos com Trump.
“Aumentar tarifas sobre minerais, por exemplo, prejudicaria as receitas das minas e seus funcionários”, disse ele. “Há pouco que países menores poderiam fazer que não os prejudicaria mais do que aos EUA.”
Andy Bounds
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