O presidente Donald Trump está considerando proteger setores como o de automóveis das tarifas dos Estados Unidos, e sua administração fará um anúncio ainda nesta quarta-feira (5) sobre as tarifas impostas ao Canadá e ao México, disse o chefe do Departamento de Comércio dos EUA, Howard Lutnick.
Em entrevista à Bloomberg TV, Lutnick disse que Trump tomaria a decisão final sobre conceder ou não alívio a certas indústrias. Ele afirmou que a tarifa de 25% aplicada ao Canadá e ao México permaneceria, com a possibilidade de renegociação com os dois países vizinhos no próximo ano.
“O presidente é quem toma a decisão”, disse o secretário. “Será 25%, mas haverá algumas categorias excluídas. Pode muito bem ser automóveis. Pode haver outras também.”
Lutnick disse que a administração estava analisando o acordo entre os três países sobre comércio (o USMCA) e se certos setores haviam cumprido o que foi acertado durante o primeiro mandato de Trump. Questionado se os automóveis poderiam ver uma isenção das tarifas que entraram em vigor na manhã de terça, Lutnick disse à Bloomberg: “Não é realmente uma isenção.”
O chefe do Comércio não disse quando o anúncio seria feito nesta quarta, e Trump não tem eventos públicos em sua agenda após o discurso ao Congresso na noite de terça.
Lutnick primeiro sugeriu a ideia de alívio tarifário para empresas que seguem as regras de origem do USMCA apenas algumas horas depois de Trump impor pesadas tarifas de 25% sobre todas as importações do Canadá e do México e uma tarifa extra de 10% sobre produtos chineses.
Trump declarou que os três países ainda não fizeram o suficiente para interromper o fluxo de fentanil e os produtos químicos precursores do opioide para os EUA, acusação definida pelo Canadá como “completamente falsa.”
As tarifas representam dificuldades extremas para os fabricantes de automóveis, que produzem veículos nos três países e frequentemente enviam peças através das fronteiras da América do Norte várias vezes enquanto são montadas em sistemas e veículos acabados.
BENEFÍCIO PARA DETROIT
Uma isenção de tarifas para carros e caminhões que cumprem as complexas regras de conteúdo norte-americano do USMCA para acesso livre de tarifas ao mercado dos EUA seria um benefício para os tradicionais fabricantes de automóveis de Detroit, Ford, General Motors e Stellantis.
Seus veículos cumprem as regras de 75% de conteúdo norte-americano do USMCA —requisito acordado por Trump durante seu primeiro mandato para manter a produção de peças na região.
Para acesso regional totalmente livre de tarifas, as regras também exigem que 40% do conteúdo de um carro de passeio seja fabricado nos EUA ou no Canadá, com base em uma lista de “peças principais”, incluindo motores, transmissões, painéis de carroceria e componentes de chassi. O limite para caminhonetes é de 45%.
Uma isenção também beneficiaria alguns fabricantes de automóveis de marcas estrangeiras com grandes operações de produção nos EUA, incluindo Honda e Toyota, mas alguns concorrentes que não cumprem teriam que pagar as tarifas completas de 25% dos EUA.
O alívio em análise também eliminaria a tarifa de 10% sobre as importações de energia canadense, como petróleo bruto e gasolina, que cumprem as regras de origem do USMCA, disse uma fonte familiarizada com as discussões.
Fontes do setor automotivo disseram à Reuters que uma opção era uma isenção de 30 dias, mas as empresas precisariam demonstrar planos para investir mais na fabricação nos EUA.
As tarifas ameaçam descarrilar a recuperação econômica incipiente do Canadá e podem desencadear uma recessão, já que o país depende dos EUA para 75% de suas exportações e um terço de todas as importações.
As tensões comerciais também já podem estar prejudicando os EUA. Novos dados divulgados nesta quarta mostraram crescimento lento da folha de pagamento, bem como crescimento salarial mais baixo para trabalhadores que mudam de emprego, com a incerteza em torno das políticas de Trump sendo um fator provável.
O dólar atingiu mínimas de três meses nesta quarta, e os índices de ações dos EUA caíram constantemente esta semana. O Nasdaq caiu 9% desde 20 de fevereiro.
Trump tem uma conversa programada com o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau nesta quarta, disse uma fonte familiarizada com o assunto à Reuters.
Lutnick, que se reuniu com os fabricantes de automóveis de Detroit nos últimos dias, disse que discutiria o cumprimento do acordo comercial de 2020 assinado por Trump durante seu primeiro mandato.
“Se você cumpriu o acordo, então talvez evite tarifas, e se não cumpriu o acordo, bem, fez isso por sua conta e risco. Você sabia que não estava cumprindo”, disse Lutnick.
Lutnick também disse que tarifas recíprocas mais amplas ainda estão chegando em 2 de abril, com algumas sendo aplicadas imediatamente, enquanto outras podem levar semanas ou meses antes de serem impostas.
Essas tarifas corresponderiam às taxas de importação cobradas por outros países e compensariam suas barreiras não tarifárias. Elas também atingiriam o Canadá e o México, mas poderiam ser um problema maior para a União Europeia, que tem tarifas de veículos mais altas do que os EUA.
Os países da UE também têm impostos sobre valor agregado, que a administração Trump considera equivalentes a uma tarifa.