O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ressaltou durante discurso ao Congresso americano suas principais ações na área econômica, mas deixou de fora as consequências e críticas enfrentadas às medidas, como a possibilidade de aumento da inflação americana.
O republicano elencou a imposição de tarifas a países aliados —citando inclusive o Brasil—, os cortes em órgãos do governo federal combinada à demissão massiva de funcionários, a promessa de reduzir a cobrança de impostos dentro do país e o combate à inflação como suas principais bandeiras na área.
As declarações, feitas num discurso em sessão conjunta do Congresso, com a presença de senadores e deputados, foram em grande parte acompanhadas de celebração dos republicanos e silêncios e protestos simbólicos de democratas.
Um dos raros momentos que não contou com uma torcida barulhenta dos apoiadores foi quando Trump citou as tarifas de 25% impostas a Canadá e México, vizinhos e grandes parceiros comerciais, além de ter dobrado para 20% as tarifas sobre produtos chineses. O presidente avisou ainda na terça à noite (4) que ajustes poderiam ser feitos. O resultado veio antes do esperado.
Ainda nesta quarta, ele abriu exceções a montadoras de automóveis, avisado de que o preço dos carros poderia subir abruptamente no país. Ele mantém, no entanto, as taxas a outros bens importados desses países, o que inclui uma série de alimentos perecíveis.
Em 2022, o México forneceu 51% das frutas frescas e 69% dos vegetais frescos aos EUA e o Canadá, 2% e 20% respectivamente, segundo o Departamento de Agricultura. Na terça, um diretor da Target, uma das gigantes americanas, avisou que os preços nos mercados deve subir —e rápido—, já que as empresas vão repassar aos consumidores o valor das tarifas.
O Brasil entrou no balaio quando o republicano listava os países que estarão sujeitos a tarifas para conseguir o que ele vem chamando de reciprocidade tarifária. A data para o início da cobrança é 2 de abril, segundo o presidente.
Trump deu a declaração após dizer que seu governo brigará para baixar a inflação do país, que seria, segundo ele, uma desastrosa herança deixada pela gestão anterior, do democrata Joe Biden, na economia.
Ele citou a disparada do preço dos ovos e responsabilizou seu antecessor pela escala no custo. Há alguns dias, o Departamento de Agricultura dos Estados anunciou US$ 1 bilhão em investimentos para importar mais ovos e para combater a gripe aviária, que matou, em três anos, 166 milhões de frangos no país.
Em um trocadilho com o lema de suas campanhas, Trump disse que fará com que o país tenha preços acessíveis novamente (“make America affordable again”).
As tarifas, defendeu Donald Trump, tornarão os Estados Unidos novamente ricos.
O presidente exaltou a figura do bilionário Elon Musk, que comanda um órgão de eficiência governamental, responsável por uma série de cortes de verbas em departamentos do governo e pela demissão de servidores.
Trump citou dados que comprovariam haver fraudes e desperdício nesses órgãos, sem provas.
A Usaid (Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional), órgão que financia iniciativas humanitárias ao redor do mundo, é uma das mais citadas e afetadas pelos cortes e acusada pelo republicano e aliados de desvio de verbas sem que haja comprovação.
“Todas essas fraudes —e há muitos piores— mas eu não achei apropriado falar sobre elas. Muitas outras foram descobertas e expostas e rapidamente terminadas por um grupo de pessoas muito inteligentes, em sua maioria jovens, liderados por Elon, e nós agradecemos. Encontramos centenas de bilhões de dólares em fraudes”, afirmou no discurso televisionado em horário nobre.
Trump deixou de fora as ações judiciais que enfrenta. Nesta quarta, a Suprema Corte dos EUA determinou que o governo Donald Trump deve liberar verbas para organizações de auxílio internacional quando essas sustentarem programas já em andamento.
Isso significa o desbloqueio de US$ 2 bilhões, ou R$ 11 bilhões, para programas da Usaid, na conta do governo. Os valores haviam sido retidos por Trump desde que ele tomou posse, em 20 de janeiro.
Em outra menção a medidas tomadas por Joe Biden, Trump voltou a criticar os estímulos à eletrificação de veículos e defendeu a revogação de uma ordem executiva de 2021 assinada por seu antecessor, que buscava garantir que 50% de todos os novos veículos vendidos em 2030 fossem elétricos.
O discurso de Trump durou quase 100 minutos e foi o mais longo endereçado ao Congresso entre os ocupantes da Casa Branca da história moderna. A economia, porém, não foi o centro das atenções do presidente, embora os problemas inflacionários da gestão anterior tenham ajudado na sua eleição.
Já no final da fala, Trump citou uma das ofensivas na política externa e afirmou que os Estados Unidos enviaram muito dinheiro à Ucrânia —em fala celebrada por democratas, enquanto os republicanos ficaram em silêncio— e que ele agora tenta brecar isso para tentar acabar com a guerra.
No passado, essa era um dos únicos momentos que uniam republicanos e democratas em aplausos a Biden. Agora, nem isso mais é consenso.